06 nov, 2024 - 07:47 • Tomás Anjinho Chagas (em Bruxelas)
Maria Luís Albuquerque assinala ter sido ministra das Finanças em Portugal durante a "crise económica mais profunda que a União Europeia alguma vez viu" e reconhece que essa crise foi "particularmente dura" para Portugal.
A comissária portuguesa indigitada foi ministra das Finanças durante o resgate financeiro, altura em que o governo era liderado por Passos Coelho.
"Do meu histórico, eu destacaria o período em que fui ministra das Finanças, altura que coincidiu com a crise económica mais profunda que a União Europeia alguma vez viu", referiu a comissária portuguesa indigitada durante a intervenção inicial perante os eurodeputados, em Bruxelas, onde foi ouvida para ser confirmada como comissária nos Serviços Financeiros e União da Poupança e dos Investimentos.
Maria Luís Albuquerque recorda as "intensas e difíceis negociações em Portugal e em Bruxelas" e as "decisões muito difíceis que tivemos de tomar", garantindo estar "profundamente consciente da dimensão do sofrimento que isso provocou para muitas pessoas em Portugal". A antiga governante refere-se às medidas impostas pela Troika, implementadas pelo governo de Passos Coelho, que incluíram cortes nas pensões e nos salários.
Nesse sentido, a comissária indigitada acredita que isso serviu de aprendizagem para o futuro: "Dos tempos mais negros aprendi uma lição essencial: a estabilidade financeira vai ser sempre o pré requisito para uma economia forte e competitiva, que sirva os seus cidadãos".
Também na intervenção inicial, Maria Luís Albuquerque reconheceu que a União Europeia está a "ficar para trás em termos de competitividade global" e alertou para a possível "perda de capacidade para cumprir as promessas de crescimento, emprego e prosperidade".
A comissária portuguesa indigitada foca-se na "estabilidade e integridade" do sistema financeiro, neste discurso inicial feito em inglês numa das salas do Parlamento Europeu, em Bruxelas.
Maria Luís Albuquerque considerou ainda que "um elemento importante de competitividade é a redução de encargos de regulamentação particularmente nas pequenas e médias empresas".
Durante a primeira pergunta dirigida por um eurodeputado português, Catarina Martins, eleita pelo Bloco de Esquerda, questionou Maria Luís Albuquerque "para que banco vai trabalhar" depois de sair da Comissão Europeia. Numa alusão à passagem da antiga ministra das Finanças pela Arrow Global, uma empresa do setor privado cotada na bolsa de Londres, depois de sair do governo português.
Em resposta, Maria Luís Albuquerque saltou por cima do assunto, dizendo que não sabe o que vai fazer no futuro, garantindo apenas que, no caso de ser confirmada como comissária, vai defender os interesses europeus durante os próximos cinco anos.
Também contra a sua nomeação como comissária está o PCP, que fez questão de se fazer ouvir em Bruxelas. Durante a sua intervenção, João Oliveira, eurodeputado do PCP, acusou Maria Luís Albuquerque de servir os grandes interesses do capital, algo que Maria Luís Albuquerque recusou e reconheceu "diferenças irreconciliáveis" na forma de ver o mundo entre os dois.
Maria Luís Albuquerque, antiga ministra das Finanças, foi indicada por Luís Montenegro para ser a comissária portuguesa, na pasta dos Serviços Financeiros e União da Poupança e dos Investimentos, mas antes de iniciar funções todos os comissários indigitados têm de ser ouvidos pelos eurodeputados para verificar se estão aptos para o cargo, neste caso, pelos membros da Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários (ECON).
A Comissão Europeia é liderada por Ursula Von Der Leyen e funciona como um governo europeu, onde cada estado-membro da União Europeia tem direito a um comissário, uma espécie de ministro, de uma determinada área, como a Agricultura, Economia, Justiça ou Saúde, por exemplo.
A audição de Maria Luís Albuquerque coincide com os momentos em que começa a desenhar-se uma vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos da América.