16 nov, 2024 - 17:32 • João Pedro Quesado
O líder do PS acusou este sábado o ministro da Presidência de mostrar "ignorância" na quinta-feira, quando pareceu ligar a má classificação europeia de Portugal na segurança ferroviária ao consumo de álcool pelos maquinistas. António Leitão Amaro já foi criticado pelo Sindicato dos Maquinistas, que disse que "um ministro ignorante é um ministro perigoso".
Em declarações aos jornalistas esta tarde, em Aveiro, Pedro Nuno Santos criticou o Governo por olhar para os trabalhadores "sem respeito e sem empatia", com o ministro da Presidência a fazer uma "declaração profundamente ofensiva", na opinião do secretário-geral do PS.
"A forma como o senhor ministro da Presidência se referiu aos maquinistas da CP... É que não é só a ignorância do senhor ministro e deste Governo no que diz respeito à ferrovia, é todo um programa na forma como olham para os trabalhadores", apontou o socialista, para quem a falta de "respeito" e de "empatia para com o outro" é "uma marca deste Governo".
Acidentes de comboios
Sindicato acusa ministro da Presidência de anuncia(...)
Pedro Nuno Santos alinha, assim, pelo mesmo diapasão do Sindicato dos Maquinistas (SMAQ). Na quinta-feira, em declarações à Renascença, o presidente do sindicato descreveu as declarações como resultado de uma "perfeita ignorância", e apontou que "um ministro ignorante é um ministro perigoso".
"Aquilo que nós assistimos esta tarde, na conferência de imprensa, foi um insulto aos maquinistas. O senhor ministro faz uma relação entre taxas de alcoolemia e sinistros na ferrovia quando não há um nexo causal", afirmou António Domingues.
O sindicalista sublinhou que os relatórios anuais de segurança do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT) mostram que os acidentes acontecem por "fatores externos à condução de comboios", como a "infraestrutura degradada, colhidas em passagens de nível ou suicídios".
Esses relatórios comprovam a posição do Sindicato dos Maquinistas. O Relatório Anual de Segurança Ferroviária de 2023 aponta que "as 19 vítimas mortais registadas em 2023 (excluindo suicídios) estão relacionadas com a interface do sistema ferroviário com elementos externos ao mesmo", e sublinha a "necessidade de reforço de medidas de prevenção de colhidas e de acidentes em passagens de nível". 85% dos acidentes significativos de 2023 aconteceram em passagens de nível.
De acordo com o jornal "Público", também o Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) diz que desde 2014 "nunca foi detetada nos maquinistas taxa de alcoolemia superior a 0,5 g/l, nem aspetos correlacionados com essa matéria foram identificados como factor interveniente em quaisquer acidentes ou incidentes".
A proposta legislativa apresentada pelo Governo, diz o "Público", surge de uma recomendação à Autoridade de Segurança Ferroviária em resultado da investigação ao acidente de Soure, de julho de 2020, quando um Alfa Pendular colidiu com um veículo de serviço da Infraestruturas de Portugal (IP), resultando na morte dos dois trabalhadores ferroviários.
Sem detetar qualquer influência de álcool no acidente, o GPIAAF constatou não existir "legislação específica sobre esta matéria para a atividade de condução ferroviária", com a "fixação de um valor-limite de alcoolemia" a ser deixada "ao critério de cada empresa". Na carta enviada ao Ministério da Presidência, em que pede que o ministro se retrate das declarações, o SMAQ aponta uma taxa limite de 0,20 g/l.
A Associação Portuguesa de Empresas Ferroviárias também criticou o ministro Leitão Amaro. As empresas de mercadorias Medway e Captrain consideram as palavras do ministro "infelizes e injustas", segundo o "Público".