19 nov, 2024 - 16:30 • Daniela Espírito Santo
Luís Montenegro esteve presente na cimeira do G20, no Rio de Janeiro, e, em jeito de balanço, anunciou um encontro "à margem" com "alguns parceiros" para "partilhar instrumentos e caminhos a percorrer no futuro no âmbito da utilização da inteligência artificial".
Entre os "parceiros" mencionados no encontro em que Portugal participou constam "o Brasil, a Espanha, a Índia, a Itália e a Organização Mundial de Saúde", adiantou o primeiro-ministro português, aos jornalistas, esta terça-feira.
Depois de ter dado "nota do empenho do governo português" em matérias de IA na Web Summit (onde apresentou o modelo de linguagem português - agora batizado de "Amália"), Montenegro acrescentou agora que é seu propósito "dotar a administração pública" dos instrumentos que a Inteligência Artificial lhe possa proporcionar para melhorar a eficácia na resposta "às solicitações de cidadãos e empresas".
"Neste contexto, esta cooperação que hoje estabelecemos é importante e poderá servir para partilharmos soluções que sirvam o interesse da comunidade sem prejudicar a dimensão ética", adianta o primeiro-ministro português, que recentrou, depois, a discussão novamente no principal assunto desta cimeira: o ambiente.
Levantando o véu sobre a "análise do compromisso dos países do G20 relativamente às alterações climáticas e transição energética", Montenegro revelou que a estratégia portuguesa - ou o "plano nacional para o clima e energia" - tem "objetivos ambiciosos", como "conseguirmos a neutralidade carbónica até 2045", uma redução "de 55% das emissões até 2030" e termos "51% de energia renovável no consumo geral de energia no país" no final da década.
Ao Brasil, Portugal levou também uma "experiência inovadora" portuguesa que tem gerado "curiosidade e interesse" de outros estados e "países amigos": o programa que permite "converter a dívida de alguns países em investimento climático", iniciativa que traz, diz Montenegro, "ganhos na proteção do ambiente e energias renováveis". "Já está em funcionamento com Cabo Verde e está em vias de se implementar em São Tomé e Príncipe", explica, esperando que sirva de incentivo para outros seguirem o exemplo.
"Creio que a experiência que tive ocasião de transmitir pode ser uma inspiração para que outros países possam, no futuro, utilizar este instrumento - que é inovador - para poder ajudar aqueles que têm menos condição económica de superar este desafio das alterações climáticas", deseja.
A presença portuguesa na cimeira do G20 serviu, igualmente, para "reiterar a posição do governo" no que aos oceanos diz respeito. Portugal pretende colaborar em todas as iniciativas de transição energética que "estejam associadas à preservação dos oceanos e da biodiversidade marítima", aproveitando, ao mesmo tempo, "as oportunidades que, no mar, se abrem para a produção de energia".
"Temos em Portugal algumas experiências no domínio da produção de energia offshore, flutuante, solar e eólica. Foi um ponto que foi abordado por outros países, em particular pelo primeiro-ministro da Noruega e pelo Presidente francês, já que a França e a Costa Rica vão, no próximo ano, realizar uma cimeira sobre este tema", salientou Montenegro.
No dia em que se assinalam mil dias de guerra na Ucrânia, Luís Montenegro foi questionado pelos jornalistas sobre o ambiente que se vivia no interior da cimeira, onde os dois lados da "barricada" se encontravam representados. Para o primeiro-ministro, "a diferença à volta da mesa não cresceu na realização da cimeira". "Não creio que tenha havido mais divisão do que aquela que já havia", diz, salientando o "grande isolamento por parte da Rússia", com uma "grande maioria" a adotar, durante a cimeira, uma "postura de condenação" e de "contribuição para que a diplomacia possa vencer", conduzindo "as partes envolvidas no conflito a encontrarem uma solução boa para todos".
"Passam-se hoje mil dias sobre esta iniciativa ilegítima e injustificada da Rússia de invadir a Ucrânia. Mil dias que são mil dias de guerra à democracia, aos direitos humanos... São mil dias de guerra aos valores e princípios que Portugal defende no contexto internacional, que são merecedores, mais uma vez, de uma condenação veemente por parte de Portugal", lamentou o primeiro-ministro, que se escusou a comentar diretamente "operações no terreno" e "ameaças de alguns dos intervenientes no conflito".
"Creio que é responsabilidade de todos os líderes não estarem a multiplicar respostas e contra-respostas que não ajudam a resolver o problema, que não ajudam a resolver os problemas humanitários que as populações sofrem hoje. O nosso desejo é que não se vá mais longe do que aquilo que já se foi e, sobretudo, que ameaças que põem em causa não apenas a integridade do território ucraniano, mas valores muito altos de ofensa à dignidade humana possam ser apenas e só ameaças de retórica e nunca operações no terreno", remata.