André Ventura diz que, desta vez, nem a operação de propaganda foi eficaz.
O líder do Chega comentou, assim, a declaração ao país feita esta quarta-feira pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro.
"É uma intervenção caricata após reunir vários responsáveis da polícia e ministeriais, para anunciar um investimento em viaturas e em estruturas, investimento que, aliás, segundo todas as informações, já estava previsto. Foi um péssimo número de propaganda", remata.
O líder do Partido Chega gostava que o primeiro-ministro tivesse dito que ia dar mais poderes à polícia e que, não o fazendo, acabou por causar uma "trapalhada política".
"O caricato da intervenção foi que todo o contexto da mesma parecia indicar que iríamos ter uma grande mudança de paradigma na área da segurança e da justiça e o primeiro-ministro acaba por anunciar mais viaturas e mais investimentos em viaturas, um anúncio que podia ter sido pelo ministro da Administração Interna à saída do parlamento", criticou.
Ventura defendeu que o primeiro-ministro deveria ter aproveitado a intervenção de quarta-feira para afirmar que estava "incondicionalmente ao lado da polícia", que "há hoje uma questão real de insegurança em muitas zonas do país" e é preciso ser "muito mais firme" e anunciar "que ia mudar a legislação para dar mais extensão aos poderes da polícia".
Sobre se considera que se trata de uma vitória do Chega o facto de o primeiro-ministro ter convocado uma declaração às 20h00 para falar de segurança, Ventura considerou que "o original é sempre melhor do que a cópia" e acrescentou que, "quando se tenta cavalgar um discurso sem, na verdade, o querer fazer, dá sempre mau resultado".
Já o PAN considera que Luís Montenegro não acautelou o princípio da separação de poderes.
A porta-voz do partido, Inês Sousa Real, considerou a declaração "absolutamente inusitada" e criticou o primeiro-ministro por "assumir as funções de porta-voz dos órgãos de polícia criminal".
"Não nos parece razoável, como também não parece acautelar o princípio da separação de poderes, ainda que no âmbito de um caso que consternou o país e que nos preocupou, tendo em conta o contexto de insegurança que foi vivido", afirmou, numa alusão aos desacatos que se sucederam à morte de Odair Moniz.
A deputada única do PAN manifestou ainda estupefação por o primeiro-ministro "extrapolar a dimensão de um caso para o horário nobre, em pleno processo orçamental", salientando que a Assembleia da República tem precisamente neste momento os instrumentos para conseguir responder a questões como a valorização das forças de segurança, dos órgãos de polícia criminal, dos bombeiros, Proteção Civil e Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
Inês Sousa Real acusou ainda de se demonstrar preocupado com a segurança do país na mesma semana em que "veio de alguma forma desvalorizar um dos maiores flagelos que atinge Portugal, que é a violência das mulheres".
"Portugal não é um país seguro para as mulheres", afirmou, salientando que o Governo não pode é "dormir à sombra da bananeira naquilo que diz respeito aos crimes contra as mulheres" e deve procurar erradicá-los.