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Parlamento recorda Mário Soares que "esteve sempre do lado certo das lutas"

06 dez, 2024 - 12:35 • Filipa Ribeiro e Lusa

Para o líder do PS, "Soares viveu a História não como espetador, mas como protagonista e lutador incansável", considerando que "contra a ditadura, foi resistente, conspirador, agitador".

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Parlamento recorda Mário Soares que "esteve sempre do lado certo das lutas"

O líder do PS defendeu esta sexta-feira que a vida política de Mário Soares "vale como um todo" e recusou que o seu percurso seja marcado por contradições, considerando que "esteve sempre do lado certo das lutas" em que participou.

Na intervenção em nome do PS na sessão solene evocativa do centenário do nascimento de Mário Soares, no parlamento, Pedro Nuno Santos, que se afirmou socialista desde que nasceu, referiu que o antigo Presidente da República foi a sua "referência política" e o político português que "mais admirava" e com quem mais se identificava.

"Quem dedicou sete décadas da sua vida à política expressou, em momentos distintos, diferentes opiniões e tomou diferentes posições, mas tal não significa que o seu percurso seja marcado por contradições", defendeu.

Segundo o secretário-geral do PS, "Mário Soares esteve sempre do lado certo das lutas em que tomou parte".

"Em tempos sombrios, Soares esteve do lado certo na luta contra a longa noite da ditadura, batendo-se com toda a sua inteligência e coragem. Gabava-se, e tinha esse direito, de nunca ter cedido perante a tortura de sono a que foi submetido", enalteceu.

Pedro Nuno Santos deu como exemplos do "lado certo" onde considera que o fundador do PS sempre esteve a "prioridade dada ao processo de descolonização", a adesão de Portugal à CEE, o empenho na fundação do SNS, a revisão constitucional de 1982, que "pôs fim à tutela militar do regime democrático", a "crítica feroz" à austeridade durante a "troika" ou a procura da união da "esquerda contra um direita radicalizada".

"Se, aos olhos de muitos, entrou em contradição ao longo do tempo, a minha convicção é a oposta. É minha convicção que o mundo mudou, nestas décadas, muito mais do que Mário Soares e que as inflexões no seu posicionamento resultam mais dos efeitos do pêndulo da História do que de incoerências no seu pensamento", afirmou.

Para o líder do PS, "Soares viveu a História não como espetador, mas como protagonista e lutador incansável", considerando que "contra a ditadura, foi resistente, conspirador, agitador".

Segundo Pedro Nuno Santos, "a vida política de Soares vale como um todo", recusando que, para a avaliar, se escolha o período que "mais convém ou mais agrada", de acordo com a conjuntura do momento ou a posição que se quer defender.

PSD diz que Soares lutaria contra populismos

PSD defendeu que Mário Soares seria , como foi no passado, um lutador contra radicalismos e populismos, com a direita a apontar-lhe erros cometidos na descolonização mas apenas o Chega a demarcar-se da sessão solene.

O deputado do PSD António Rodrigues defendeu que recordar o histórico socialista "é celebrar Abril e o papel de todos aqueles que contribuíram para a construção da democracia, sem atender a dogmatismos ideológicos e dissidências políticas", recebendo aplausos quer do PS quer do PSD.

"Falamos do homem que, a par de Francisco Sá Carneiro, lutou intransigentemente contra os radicalismos da extrema-esquerda e da extrema-direita durante o PREC.

Falamos do europeísta convicto, que foi determinante para a adesão de Portugal às Comunidades Europeias", disse, recordando-o como "uma das maiores personalidades da nação das últimas décadas".

Rodrigues lembrou também Soares como alguém pouco dado a consensos e "cujos detratores lhe atribuem responsabilidades num incomodo processo de descolonização", preferindo sugerir qual seria o seu papel atual, se fosse vivo.

Antes, o presidente do Chega, André Ventura, recordou "o papel incontornável" de Soares no 25 de Novembro e nos primeiros passos do país na Europa, mas fez o discurso mais crítico para o evocado.

"Não podia estar hoje neste plenário se não deixasse claro e transmitisse em nome do partido que esta cerimónia solene desta forma, neste modelo, não deveria estar a acontecer", afirmou.

Ventura acusou Soares de ter sido "cúmplice e ativista de um sistema de donos disto tudo, que se iniciou à sua sombra e se manteve à sua sombra".

Esquerda recorda resistente antifascista

BE e Livre recordaram o histórico líder do PS Mário Soares como um resistente antifascista que “nunca se calou” apesar algumas contradições, e o PCP lembrou divergências históricas numa relação pautada por “respeito mútuo”.

Pelo BE, o deputado José Soeiro lembrou um Presidente que “defendeu «o direito à indignação» quando o povo bloqueou a ponte 25 de Abril, no fim do cavaquismo” e que “saudou a solução política encontrada em 2015” – a denominada geringonça, que juntou a esquerda parlamentar e o PAN.

José Soeiro recordou Soares como “um dos maiores protagonistas da política portuguesa”, “combatente anticolonial e antifascista, advogado de presos políticos, preso político doze vezes”, deportado e exilado.

“Nem pai do povo, nem mito profano. Republicano, socialista e laico, sim, como o próprio se definiu. Merece tudo menos a condescendência da despolitização e do consenso”, disse.

O deputado do PCP António Filipe, que começou por saudar os familiares de Soares e o PS, recordou que a centenária história dos comunistas cruzou-se muitas vezes com a ação política do líder socialista, “em lutas comuns contra o fascismo, em momentos de confronto sobre os caminhos a seguir pela Revolução Portuguesa, em convergências e divergências que marcaram o relacionamento entre comunistas e socialistas”.

“Confronto que da nossa parte foi assumido com frontalidade, marcado pela coerência das nossas posições, mas também pautado por relações de respeito mútuo”, sublinhou.

Discordando das “convicções europeístas” de Soares, e a “frontal oposição” dos comunistas aos governos liderados pelo socialista, António Filipe recordou também, contudo, as eleições presidenciais de 1986, nas quais o PCP apelou ao voto em Soares contra Freitas do Amaral – tapando a sua cara no boletim de voto se fosse preciso, apelo célebre de Álvaro Cunhal.

Pelo Livre, o deputado Paulo Muacho, lembrou Soares como “o resistente antifascista, o exilado político, o lutador pela democracia e pela integração europeia”, mas também “o homem, com todos os seus defeitos e contradições”.

A deputada única do PAN, Inês Sousa Real, destacou “o importante contributo que Mário Soares deu para a defesa do ambiente e de um combate sério ao aquecimento global”, tendo representado Portugal na Cimeira da Terra de 1982.

Recordando que na altura tinha “apenas 12 anos”, e era uma estudante “com bochechas tal e qual como tinha o presidente na altura”, Sousa Real assinalou que há um “legado progressista, humanista mas também ambientalista para cumprir”.

Aguiar-Branco propõe busto de Mário Soares

O presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, propôs que o busto de Mário Soares, fundador e primeiro líder do PS, fique instalado na Sala do Senado do parlamento.

Esta proposta foi apresentada pelo antigo ministro social-democrata no discurso que proferiu na sessão solene. José Pedro Aguiar-Branco recordou que na sessão solene de 1990, na Assembleia da República, Mário Soares, então chefe de Estado, evocou Francisco Sá Carneiro e defendeu que o fundador do PPD deveria ser lembrado "na galeria dos bustos que honram os grandes parlamentares do passado e que honram o parlamento".

"Há poucas semanas, os serviços iniciaram o processo para termos, em 2025, um busto de Mário Soares na Assembleia da República. Sei que ele apreciaria o gesto, mas tomo a liberdade de sugerir onde deverá ficar colocado: na Sala do Senado. Especificamente na Sala do Senado", defendeu o presidente da Assembleia da República.

Sem Soares "a liberdade e a democracia teriam esperado mais"

O Presidente da República homenageou "a vida singular, irrepetível" de Mário Soares, "sempre livre, sempre igualitário, sempre anti-xenófobo", e considerou que sem ele a liberdade e a democracia em Portugal teriam esperado mais.

Marcelo Rebelo de Sousa, que discursava na sessão solene evocativa dos cem anos do nascimento de Mário Soares, na Assembleia da República, que se completam no sábado, apontou essa sessão como exemplo da liberdade que o antigo chefe de Estado ajudou a criar.

"Sem ele, Mário Soares, não seria possível uma sessão evocativa tão livre como a de hoje: uns livremente evocando mais os seus méritos, outros evocando livremente os seus deméritos. Uns louvando a democracia que ajudou a construir, outros querendo outro futuro que não o que ele sonhou", afirmou.

"Foi isso, a liberdade e a democracia, que ele ajudou a criar. Foi isso que permitiu este parlamento livre e a sessão solene que estamos a viver", acrescentou.

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, sem Mário Soares "a sua coragem e as suas convicções, que eram de um partido, nos ultrapassavam em muito um partido, a liberdade, a democracia e a Europa teriam esperado mais, ou vivido atalhos mais penosos, ou conhecido mais sobressaltos ou empecilhos, ou mesmo conflitualidades internas, autoritarismos ou desvios não democráticos".

O Presidente da República questionou "quem esteve, como Mário Soares, tão presente e tão decisivamente presente nos três tempos políticos: o tempo da ditadura, o tempo da revolução, o tempo do nascimento da democracia, o tempo das duas primeiras décadas dessa democracia".

"Do universo partidário, nenhum. Do universo militar, sim, largamente um: o primeiro Presidente da República português eleito em democracia, decisivo no fim da revolução, no início da democracia, na civilização do regime, no regresso dos militares aos quartéis e na abertura da governação à direita", considerou, realçando em seguida, porém, que Ramalho Eanes "não tinha participado na resistência à ditadura, em que Mário Soares tinha intensamente militado durante 30 anos".

[notícia atualizada às 13h30 de 6 de dezembro de 2024 para acrescentar mais detalhes]

Comentários
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  • ze
    06 dez, 2024 aldeia 18:22
    Os milhares que tiveram de fugir das ex provincias ultramarinas com uma mão á frente e outra atrás,os que já faleceram. e os seus descendentes que ouviram e sabem de cor toda a história que se passou....certamente não o recordarão no bom sentido, e não esquecemos que foi com ele que tivemos a 1ª banca rôta de Portugal. Foi um homem, um politico e um governante, tanto como 1ºministro e como presidente da républica, mas Portugal lucrou assim tanto com a sua politica? fica a pergunta.

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