08 dez, 2024 - 00:08 • Lusa
Isabel Soares lembrou este sábado o combate do pai contra a ditadura salazarista e salientou que os socialistas foram os "únicos vencedores civis" do 25 de Novembro, criticando uma "direita ressabiada que nunca teve coragem de se bater".
Estas posições foram defendidas pela filha de Mário Soares, que discursava no jantar comemorativo do PS que assinala hoje o centenário do histórico socialista e que decorre na FIL, no Parque das Nações, em Lisboa.
Isabel Soares lembrou o pai como um homem "para quem a liberdade era como o ar que respirava e nunca desistiu de lutar por ela, mesmo nas horas mais sombrias, antes e depois do 25 de Abril".
Preso, exilado, "nunca desistiu, nunca quebrou, nunca falou na polícia", enalteceu a filha.
"Fez a descolonização e digo com maior orgulho, enquanto sua filha, fê-lo bem e sem tibiezas. É preciso termos orgulho nisso e não nos deixarmos amedrontar pela calúnia da direita", sublinhou Isabel Soares, depois de alguns partidos à direita terem criticado o papel do histórico socialista neste processo na sessão solene na Assembleia da República, na sexta-feira.
A partir de janeiro de 1975, "as divisões entre comunistas e socialistas acentuaram-se cada vez mais com a tentativa de sovietização do regime", contou, sublinhando a relevância do papel do seu pai durante este período histórico.
"E a direita? Onde é que estava a direita então? Fugida", repetiu várias vezes ao longo da sua intervenção.
Nos tempos do Processo Revolucionário Em Curso (PREC), "a direita andava fugida e amedrontada", afirmou Isabel Soares, "outros mais à esquerda disfarçavam e apelavam ao voto em branco como sendo o voto no Movimento das Forças Armadas", mas o PS, "como disse Manuel Alegre no seu último livro, esteve quase só no combate contra a deriva esquerdista".
"A direita não existiu nesse combate, aproveitou-se dele, abrigou-se no chapéu de chuva do PS, mas os socialistas estiveram sós até à vitória na Constituinte. O confronto militar deu-se depois de o PS ter ganho nas ruas e nas urnas, não o esqueçamos. Sim, foram os socialistas e Mário Soares à cabeça, os únicos vencedores civis do 25 de Novembro", sublinhou.
Isabel Soares apelou para que não se deixe "que a direita que andava fugida se aproprie agora da vitória do 25 de Novembro".
"Essa vitória não foi a deles, foi a nossa, foi a do PS. Devemos, pois, ter orgulho nesse combate pela liberdade e a democracia e não deixar que se reescreva a história desse tempo, esquecendo, omitindo e até distorcendo muitos factos e acontecimentos por uma direita ressabiada que nunca teve a coragem de se bater", acusou.
Isabel Soares manifestou a sua convicção de que o seu pai, se fosse vivo hoje, "estaria na primeira linha do combate contra esta direita revanchista", "contra o populismo, contra o discurso do ódio, a xenofobia, a desigualdade cada vez maior entre os muito ricos e os que nada têm".
"Estaria seguramente no combate por uma educação exigente para todos, pois só assim pode haver um elevador social. Estaria na defesa intransigente do SNS, uma criação de António Arnaut e dele, de um governo dele, é bom não esquecer. Estaria no combate por uma reforma da justiça e contra a promiscuidade entre a justiça e uma certa imprensa. Estaria na defesa da paz, como sempre esteve, contra a invasão da Ucrânia e, apesar de ser um amigo de Israel, estaria no combate claro e firme ao genocídio que está a ser cometido contra o povo palestiniano", afirmou.
"E estaria sobretudo no combate intransigente a que Portugal não regresse ao passado", sublinhou.
Na sua intervenção, Isabel Soares fez também questão de recordar a sua mãe, Maria Barroso, "mulher portuguesa, combativa e lutadora" e "companheira admirável" de Soares.
Momentos depois, a neta Lilah Soares - que só teve "o prazer de o ter como avô durante nove anos e meio" - recordou o "lado carinhoso e terno" do seu "querido avô" com quem via "o Preço Certo antes de jantar".
"Tendo a sorte de ter quem tive como avô, como avó ou até como pai e tia, cresci a saber que a democracia não é algo garantido, mas sim algo que temos de preservar", alertou.