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"Folheto de pré-campanha"? Gouveia e Melo e o “Príncipe perfeito” de braço dado na Revista da Armada

12 dez, 2024 - 20:36 • Lara Castro

Se D. João II vivesse nesta época "não hesitaria em trocar ideias" com Gouveia e Melo. No último mês de mandato do almirante apontado às eleições presidenciais, a Revista da Armada é dedicada aos "três anos de transformação" do mandato.

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“Se D. João II visse os drones, a inteligência artificial e a tecnologia que hoje temos disponível, certamente não hesitaria em trocar ideias com o Almirante [Gouveia e Melo]”. Na última edição da revista mensal da Marinha e na última com Gouveia e Melo como Chefe do Estado-Maior da Armada e da Autoridade Marítima Nacional, o almirante surge de braço dado com D. João II, conhecido como o “Príncipe perfeito". Nas redes sociais, já começaram a surgir algumas reações que colocam em causa a publicação como “um folheto de pré-campanha”.

No final de novembro, Gouveia e Melo comunicou ao Conselho do Almirantado que estava indisponível para continuar na chefia da Armada, numa altura em que surge como potencial candidato às eleições presidenciais de janeiro de 2026. Mesmo sem candidatos oficiais, o nome do militar, que ficou conhecido por coordenar a vacinação Covid-19, já lidera as intenções de voto nas sondagens.

Nesta edição da revista da Armada é feito um balanço dos anos de mandato, a começar pela capa que se refere à liderança do almirante como “três anos de transformação”. O editorial tem a assinatura de Gouveia e Melo numa mensagem de Natal onde deixa um agradecimento “a todos” - militares, civis e polícias marítimos - “pelo empenho, dedicação e brio, que colocaram na faina de cada dia”.

Também se refere ao mandato como um “processo de transformação” na Marinha, e destaca alguns feitos conseguidos, nomeadamente “a melhoria das condições dos militares”, o aumento dos salários e o suplemento de embarque, e a “inovação tecnológica” marcada pela “transição para a Marinha Digital”.

Gouveia e Melo destaca o investimento na robótica e na “utilização do espectro eletromagnético”, na ciberdefesa e “em sistemas autónomos baseados em Inteligência Artificial”. Em jeito de despedida, Gouveia e Melo afirma “deixar o navio pronto, focado, útil, significativo e tecnologicamente mais preparado para enfrentar uma nova navegação”.

Em 2021, ano em que Mendes Calado deixou a chefia da Marinha, no último mês de mandato, a edição da revista da Armada tinha também uma mensagem de Natal do almirante com um balanço do ano que estava a terminar, mas ao longo da edição não existem mais referências ao mandato. Já na mais recente edição, a expressão “três anos” surge 20 vezes e “Gouveia e Melo” nove vezes.

No final da edição deste ano, Gouveia e Melo aparece numa ilustração de braço dado com o “Príncipe perfeito” pela capacidade de visão e planeamento. D. João II conhecido pelo seu trabalho na expansão marítima “certamente não hesitaria em trocar ideias com o Almirante”, pode ler-se.

A legenda faz referência ao “novos tempos” e às “novas tecnologias”, mas também à potencialidade do mar - “a nossa maior riqueza”, “o nosso maior destino”.

Esquerda acusa Marinha de propaganda

Segundo o Observador, a publicação foi motivo de críticas na Marinha, por ser considerada “propagandista”, mas também entre os políticos já há quem diga que a revista é “um folheto de pré-campanha”.

Paulo Muacho, deputado do Livre, foi o primeiro a colocar em causa a utilização da revista para propaganda política. O deputado questionou se “é a revista da Armada ou é já um folheto de pré-campanha?”.

No Bloco de Esquerda, Fabian Figueiredo escreveu que “a publicação oficial da Marinha Portuguesa não devia ser reduzida a panfleto de pré-campanha”.

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