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Reportagem Renascença

Jovens comunistas: "PCP não está velho", nem "corre risco de desaparecer"

14 dez, 2024 - 09:38 • Tomás Anjinho Chagas

São os mais novos do partido mais velho, entram no PCP num momento de queda eleitoral, mas carregam com eles uma esperança inabalável. Partido tem-se "adaptado" mas "não tem de entrar nas modas das danças do TikTok".

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Jovens no PCP: "Não é um partido velho, é o futuro"
Nur Ribeiro, 24 anos, membro da Juventude Comunista Portuguesa. Oiça aqui a Reportagem da Renascença

A noite fria não impede os militantes de virem cá fora beber um café, acender um cigarro ou simplesmente fazer uma pausa. O cenário é o complexo desportivo de Almada, que este fim-de-semana não acolhe nenhum derby, é o palco do XXII Congresso do PCP.

Destacam-se pela sua idade, quem olhasse para as filas de trás sem saber de que evento se tratava, provavelmente não diria que é do PCP, o partido mais velho da democracia portuguesa.

"Basta entrar lá para dentro para ver a quantidade de jovens que existe, basta ver as ações da Juventude Comunista Portuguesa (JCP) para perceber que não são só velhos", descreve Daniela Sirotkina de forma espontânea. Depois corrige-se: "Que não são só pessoas mais velhas que estão no PCP".

Tem 25 anos e é militante da JCP desde 2021. Vai aproveitando o tempo para recarregar energia. Fala num "grande orgulho ser uma jovem que faz parte do PCP" e rejeita que seja um contrassenso: "É onde vejo a minha esperança e o meu futuro".

PCP não está "envelhecido"

Metros ao lado, à conversa com uma amiga, está Marta Coelho, 22 anos, que procura desconstruir a associação do PCP a uma maneira antiga de ver o mundo: "Não creio que o PCP seja um partido envelhecido, como tem vindo a ser reportado" e justifica a razão de ter aderido ao partido dizendo que "avós, bisavós e tetravós lutaram para termos esta liberdade e estes valores estão cada vez mais em risco".

É, defende, também uma resposta ao "crescimento da extrema-direita" e quer "evitar em Portugal a implementação de governos autoritários".

"Ainda hoje existe esta ofensa ideológica, de olhar para os comunistas como sendo uma coisa negativa e pejorativa, mas foram os comunistas que deram esta liberdade aos portugueses, e é uma liberdade bonita, linda", defende esta jovem do PCP.

Marta Coelho comenta ainda a resposta de Paulo Raimundo, que em entrevista à Renascença respondeu que o pior momento político da sua vida "pode ainda estar por vir". A jovem comunista não acredita que o líder do PCP se estivesse a referir ao fim da representação parlamentar do partido. "Creio que não, creio que seja a não valorização dos direitos de abril", responde.

Eleitoralmente, os últimos anos têm sido duros para o PCP, que tem vindo a perder votos consecutivamente. Marta Coelho encontra justificações próprias e externas: "Ambas, creio eu. Não podemos desvalorizar que o partido não tenha uma campanha de marketing tão ativa como os outros", começa por apontar. Mas logo depois culpa também a comunicação social: "Na Festa do Avante houve muito pouca cobertura mediática", critica.

"Não vejo risco de o PCP desaparecer"

Nur Ribeiro está junto a uma banca da Juventude Comunista Portuguesa e usa o tempo para fumar num dia que vai longo. Tem 24 anos e quando se tornou militante ainda era menor de idade. O associativismo está-lhe no sangue: "Na altura estava no secundário, o pessoal comia no chão, a escola precisava de obras, e eu tomei partido e organizei-me. A minha primeira ação pela JCP foi organizar uma reunião geral de alunos".

Andou na escola de Mem-Martins e desde então que milita no PCP, diz que é o "partido com mais projeto de futuro, se isso não apaixona os jovens...". Nur Ribeiro é otimista: "Não dependemos só da nossa representação. Cada problema que o povo sente, o partido tem uma resposta. Isso aproxima as pessoas, não vejo risco nenhum de o partido desaparecer tão cedo".

As razões para o declínio eleitoral do PCP nos últimos anos estão dispersas, mas a maior parte delas não são próprias: "O grosso acaba por ser externo ao partido, mas revelamos algumas insuficiências, algumas dificuldades de trabalho e organização interna", aponta.

A "ofensiva ideológica" volta a ser invocada para justificar a perda de votos do PCP: "Desde o silenciamento de que o PCP é vítima à deturpação das nossas posições, é um conjunto de elementos que acabam por atacar o nosso partido", resume Nur Ribeiro, que se mantém esperançoso.

"Ah! És uma jovem comunista?"

Aos 19 anos, Marta Santos vive o seu primeiro congresso do PCP enquanto militante maior de idade. Na sua visão, o PCP está a ganhar força entre os mais novos: "Às vezes, num ambiente novo perguntam-me 'ah, és uma jovem comunista?', mas a malta vai começando a perceber os problemas à sua volta e vai aderindo ao PCP", afirma.

"O PCP não está em queda", defende depois de a Renascença lhe perguntar pelos mais recentes resultados eleitorais. Para Marta, o partido tem "muitos jovens que ainda não votam" e alguns membros já partiram e não podem votar. "Uma coisa é o que dizem, outra coisa é o que acontece".

O diagnóstico para a perda de votos é repetido: "Não só a ofensiva, mas há novos partidos, alguns camaradas falecem. Mas há uma linha: em 2020 decidimos fazer o Avante! e caiu-nos o mundo em cima", atira.

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