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XXII Congresso do PCP

PCP rejeita ter “cabeça na areia” mas culpa “ofensiva” pelo declínio eleitoral

15 dez, 2024 - 15:12 • Tomás Anjinho Chagas

Comunistas juntaram-se três dias para dizer que posição do partido em relação à Ucrânia está agora a ser compreendida, assumiu “erros” e prometeu “proximidade” para as autárquicas. Mas as responsabilidades voltaram a recair sobre a “ofensiva anti-comunista” e salpicaram a comunicação social.

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A última vez que o PCP tinha realizado um Congresso, em 2020, em Loures, o partido tinha 12 deputados, o triplo daqueles que tem atualmente. De lá para cá, as posições sobre a guerra na Ucrânia agravaram uma tendência já de si decrescente dos comunistas nas intenções de voto – o partido acredita que foi incompreendido.

O que disseram as principais figuras do partido? Mea culpa ou responsabilizaram fatores externos? A posição em relação à Ucrânia mudou?

Ofensiva anti-comunista

A expressão foi um denominador comum a quase todas as dezenas de discursos que foram feitos do palanque em Almada durante mais de 20 horas de Congresso do PCP.

A “ofensiva anti-comunista”, é o processo que os militantes do PCP parecem concordar que esteja a enfraquecer o partido. Paulo Raimundo, no discurso de abertura, assumiu que “sempre houve ofensiva ideológica” mas fala numa maior “dimensão, meios e instrumentos ao seu serviço”.

O secretário-geral do PCP acredita que “num contexto de grande e prolongada ofensiva, o Partido assumiu as suas responsabilidades”, e assim, os comunistas apontam baterias para fora e encontram corresponsáveis para o declínio eleitoral.

No final, depois de dizer que o partido atingiu os seus objetivos durante este Congresso, apontou: “Alargámos a compreensão do quadro em que intervimos e a dimensão da ofensiva”.

Tempos “duros como troncos”

No discurso comunista, já não se esconde as dificuldades que vão depenando o partido em sucessivas eleições. Jerónimo de Sousa resumiu bem: “a situação é dura como troncos”, e no seu primeiro discurso num congresso depois de sair do cargo de secretário-geral do PCP, usou-se da história do partido para lembrar que “nas maiores dificuldades e adversidades que enfrentou, [o PCP] encontrou sempre força para se erguer”.

Essa tem sido sempre uma resposta subliminar nas respostas que fazem sobre o possível desaparecimento do PCP. Os militantes comunistas lembram que o partido viveu muitos anos na clandestinidade, e nem por isso deixou de existir.

O assumir que os tempos que correm são menos sorridentes é uma novidade, e Paulo Raimundo, no final do Congresso deixou o apelo: “Este não é o momento para desânimos, e aos que perdem a esperança, lhes dizemos: olhem para este Congresso, confiem neste partido”.

Batalha das autárquicas: prova de fogo para comunistas

O calendário não para e aperta para um dos momentos mais importantes para o PCP. As autárquicas estão ao virar da esquina e vão ser uma dura prova de fogo para os comunistas, que continuam a ser a terceira maior força autárquica.

A implantação nacional é um dos trunfos dos comunistas – por oposição ao Bloco de Esquerda, por exemplo – e algo de que o partido se orgulha. Mas de 2021, ano das últimas eleições autárquicas, para 2025, o Chega cresceu exponencialmente e venceu (nas legislativas) muitos concelhos no Alentejo e no Algarve.

João Dias, antigo deputado e candidato à autarquia de Serpa, alentejana e historicamente vermelha, tentou encontrar uma razão para isto: “Quanto pior as pessoas estiverem, quanto pior a sua condição de vida estiver, pior as pessoas avaliam as causas dessa situação por que passam e quanto pior avaliam, pior escolhem, pior decidem”, resumiu em entrevista à Renascença.

O perigo é iminente, mas um dirigente comunista explica à Renascença que o crescimento do Chega até pode empurrar o PS e o PSD para fora do poder e beneficiar o PCP, se o partido conseguir manter a votação.

“Erros”. Mas quais?

A juntar às posições sobre a guerra na Ucrânia – em todo o discurso não mencionou uma única vez a Rússia – o PCP queixa-se da pressão que sofreu quando realizou a manifestação do 1º de maio em 2021, em plena pandemia, e mais tarde nesse ano, o festival Avante!.

Apesar disso, Raimundo assegurou que nem tudo foi bem feito e garantiu: “estamos longe de enterrar a cabeça na areia”, chamando ao próprio PCP alguma da culpa pelas dificuldades que enfrenta.

“Ultrapassar insuficiências”, sem especificar exatamente quais são, e os “erros” também são assinalados, mas pouco aprofundados (pelo menos para fora).

Ucrânia: PCP não muda, “vida dará razão” ao partido

Outra estratégia que parece estar a ser adotada pelo Comité Central do PCP é a forma como se refere à invasão russa da Ucrânia.

Desde a primeira hora, o PCP nunca disse estar a favor da guerra, mas teve sempre dificuldades em atribuir responsabilidades à Rússia, e focou-se sempre em contextualizar a escalada de tensão, culpando sobretudo o “imperialismo” dos Estados Unidos da América e o armamento da NATO.

Agora, mais aligeirada a posição, o secretário-geral do PCP voltou a não mencionar a Rússia no seu discurso de abertura, o que significa que não há uma vontade expressa de moderar as posições comunistas em relação à guerra. No entanto, o PCP aposta as fichas no desgaste e no cansaço do público em geral para afirmar que a maioria das pessoas está a começar a aderir à narrativa do partido.

A insistência de que é “preciso dar uma oportunidade à paz”, sem explicar como é que se chega até aí, é a tecla mais batida. “Paz sim, guerra não”, repetiu-se no Congresso.

As convicções comunistas permanecem tão fortes quanto uma frase que se multiplica nos discursos: “A vida dá razão ao PCP”, e é expressada também pelo líder do partido quando fala do contexto internacional: “A realidade, o tempo e a vida estão a dar-nos razão”, reafirmou Paulo Raimundo.

Voz única do partido

Igual a si próprio, o PCP voltou a mostrar uma união praticamente irrepetível a outros partidos. Como é hábito em tudo o que gira na órbita comunista, eventuais dissonâncias são resolvidas dentro de portas. Não há descontentes a criticar a direção do partido na praça pública, para as rádios, jornais e televisões só passa o que o Comité Central pensa.

A eleição do próprio Comité Central é um momento envolto num enorme secretismo. Este sábado, ao final do dia, os funcionários do partido convidaram os jornalistas a sair do pavilhão municipal de Almada porque iam votar e discutir esta nova direção. O nível de preocupação é de tal ordem que há funcionários comunistas a verificar se ninguém ficou para trás e inspecionam até as casas de banho para ter a certeza de que o que se passa ali, fica ali.

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