16 dez, 2024 - 19:06 • Manuela Pires
O líder do PS Madeira vai votar a favor da moção de censura do Chega. Em entrevista à Renascença, Paulo Cafôfo diz que está a ser coerente porque “nunca deu a mão” a Miguel Albuquerque, ao contrário do Chega que aprovou o programa de governo e o orçamento no verão passado.
Na véspera de o parlamento regional votar a moção de censura, Paulo Cafôfo diz que a situação do governo piorou uma vez que nesta altura em oito membros do governo, cinco são arguidos em casos de suspeita de corrupção, entre eles Miguel Albuquerque.
O líder do PS Madeira, que tem de chegar a um entendimento com vários partidos da oposição, lamenta que todos tenham recusado o convite para uma conversa, porque entende que os partidos responsáveis têm de encontrar “soluções” para acabar com a instabilidade política na região.
Paulo Cafôfo reage ainda à criação de um gabinete de prevenção da corrupção dizendo que é uma fantochada e que não é independente.
Quais as razões que levam o PS a votar a moção de censura do Chega?
O PS não está agora a censurar este governo regional nem Miguel Albuquerque. Este é um governo que vai chegar ao fim, mas que nem devia ter começado. O tempo está a dar razão ao PS quando disse que este governo era muito precário porque a aliança que fez com o Chega era uma aliança condenada.
O Chega que aprovou no verão o orçamento regional…
Nessa altura o Chega, que não tem qualquer credibilidade, deu a mão a Miguel Albuquerque porque deu jeito, e quando não dá empurra.
E o Partido Socialista está a ser coerente, porque nós dissemos "não" a Miguel Albuquerque, "não" ao PSD desde o início. Aliás, votamos contra o programa de governo e o Chega não votou contra.
Mas o Partido Socialista está agora a dar a mão ao Chega …
O Partido Socialista nunca dá a mão a Miguel Albuquerque e nunca mudámos de posição. O PS sempre foi muito coerente e a nossa posição não tem nada a ver com o Chega, mas sim com a censura a Miguel Albuquerque. Repare, agora estamos a falar de uma censura ao governo, mas a situação já existia, porque Miguel Albuquerque, quando se formou este governo, já era arguido e indiciado por oito crimes, entre os quais de corrupção ativa e passiva, e o Chega validou o governo de Miguel Albuquerque.
Entrevista Renascença
José Manuel Rodrigues faz um apelo ao presidente d(...)
Mas, entretanto, surgiram mais casos que envolvem outros membros do governo regional?
Sim, a situação piorou. É inédito, mas temos um governo, e em nenhuma parte do mundo seria possível um governo estar ainda em funções, onde mais da metade do governo, é arguido. Nós temos neste momento um governo de oito pessoas, cinco são arguidas.
E temos um presidente do governo que se esconde e que tem como seguro de vida político, a imunidade que tem enquanto conselheiro de Estado. Aliás, é a única razão pela qual Miguel Albuquerque está nesta fuga para a frente e ser de novo candidato. O único interesse de Miguel Albuquerque é salvar a sua pele.
O governo aprovou a criação de um gabinete de prevenção da corrupção, que era uma exigência do Chega. Considera que pode ter algum efeito na votação da moção de censura?
Para o PS, não vai ter qualquer efeito porque é uma estratégia, como se a criação deste gabinete viesse limpar os casos que estão na justiça e de corrupção pelos quais Miguel Albuquerque está indiciado.
Mas este gabinete não é independente, é como se fosse colocar a raposa no galinheiro e o Partido Socialista não se deixa levar absolutamente por este estratagema de criar agora um gabinete para dizer que está tudo branqueado. Não está.
Na semana passada tentou fazer uma “geringonça” com o BE, o JPP, a Iniciativa Liberal e o PAN. Mas todos recusaram. Que leitura faz dessa recusa?
Uma correção, o PS não propôs nenhuma geringonça. Depois de todos os partidos estarem unidos no voto contra o orçamento regional, e com a previsibilidade de eleições antecipadas, achei que era o momento de estarmos todos unidos para construir uma solução.
As pessoas estão cansadas de eleições. É verdade. Em menos de um ano tivemos já duas eleições e em ano e meio devemos ter três, e é preciso criar uma solução de estabilidade.
Mas nem um aceitou sentar-se à mesa consigo …
E não deixo de lamentar que os partidos da oposição estejam só preocupados com o seu metro quadrado, porque este entendimento, sem imposição, ou seja, o que era importante era que nos reuníssemos, sentássemos à mesma mesa, em pé de igualdade, e o entendimento seria aquilo que os partidos quisessem, seja uma coligação, seja um acordo pré-eleitoral, seja um acordo pós-eleitoral, enfim, aquilo que se achasse por bem.
Mas os partidos acharam que não. E isto é o sinal de que quando os partidos da oposição se dividem só estamos a beneficiar o PSD. Eu não tenho dúvida nenhuma de que se houvesse um entendimento neste momento entre os partidos da oposição, criaríamos uma onda de dinâmica de vitória que derrubaria o PSD.
O presidente da assembleia legislativa da Madeira apela, em entrevista à Renascença, a um consenso entre os partidos para acabar com a instabilidade. Como vê este apelo?
O presidente do parlamento é um dos problemas também pelos quais nós nos encontramos. Porque José Manuel Rodrigues, a única coisa que quer é continuar a ser presidente da assembleia regional. Em 2019 já podíamos ter desalojado o PSD do poder, com o apoio do CDS. Mas José Manuel Rodrigues preferiu trair uma luta do seu partido de 40 anos e juntou-se ao PSD.
As últimas sondagens indicam que, em caso de eleições, o parlamento regional vai ficar quase na mesma. E a instabilidade vai manter-se?
Eu diria que as sondagens mantêm tudo em aberto. Até porque temos um grande número de pessoas que estão indecisas, depois sobre a pessoa que tem melhores condições de ser presidente do Governo, eu acabo por estar à frente de Miguel Albuquerque, embora taco a taco. E depois da recusa dos partidos para um entendimento isso significa que só o PS quer a mudança nesta região. E por isso é preciso dar força ao Partido Socialista, para o Partido Socialista ter a força necessária para provocar a mudança, porque aquilo que estamos a ver, aquilo que está nos outros partidos, é manter tudo como está.