12 jan, 2016 - 02:23 • José Pedro Frazão
Marcelo entrou na campanha com o máximo de popularidade. Com esta tese, o social-democrata Nuno Morais Sarmento admite uma “erosão natural” das intenções de voto em Marcelo Rebelo de Sousa.
“ Esta corrida presidencial é um contra-relógio de Marcelo Rebelo de Sousa consigo próprio. Se isto tem alguma lógica política, à entrada da campanha, ele deve estar a atingir o máximo. E depois, é evidente que durante a campanha uma barragem de fogo concertada, em estilos diferentes, por parte de todos os outros candidatos, é evidente que vai fazendo mossa”, reconhece o antigo ministro do PSD no programa “Falar Claro” desta semana.
No debate político semanal da Renascença, Morais Sarmento considera “normal” alguma perda de popularidade construída pela notoriedade do comentador. “ Marcelo Rebelo de Sousa contava com isso seguramente”, acrescenta o antigo ministro do PSD que admite que o seu companheiro de partido vai evitar os erros que ainda vão surgir noutras candidaturas.
“ Alguns candidatos podem cometer o erro de tentar fazer uma campanha excessivamente politico-partidarizada, governativa no sentido programático. Com isso Marcelo recupera, não vai cometer esse erro”, acrescenta Morais Sarmento que admite ter dúvidas sobre os benefícios da divisão da área do PS em duas candidaturas, do ponto de vista da possível vitória de Marcelo Rebelo de Sousa à primeira volta.
Um Presidente a cores
Actual porta-voz da candidata Maria de Belém, o socialista Vera Jardim insiste no “perfil psicológico” de hiperactividade de Marcelo Rebelo de Sousa traçado num debate recente com a candidata que presidiu ao PS.
“De certo modo, estava a tentar fazer um perfil psicológico que não era ela que fazia, é o perfil que os jornalistas, as pessoas que se interessam, que seguem a vida política, conhecem de Marcelo, um homem dos factos políticos, que alimentou [em certos momentos da vida]”, refere Vera Jardim, merecendo alguma concordância de Morais Sarmento.
O social-democrata diz que Marcelo é diferente do actual Presidente da República.
“ O que de lá sai [Cavaco Silva] via muito a vida a preto e branco. Eu quero alguém que veja a vida a cores, como nós vemos, seja capaz de dizer uma graça, de se contradizer, seja humano, mas que depois tenha a qualidade e a capacidade que revelam o contributo público de 40 anos de Marcelo Rebelo de Sousa, com a devida vénia. Os outros somados, talvez, conseguissem equiparar…”,desabafa Nuno Morais Sarmento.
Excesso de debates
Com o inédito número de dez candidatos a Belém, a proliferação de debates marcou a pré-campanha. Um excesso, diz Vera Jardim, “ que não promove, não dignifica, o próprio processo eleitoral e, por via disso, a própria instituição Presidente da República”.
Mais cáustico, Nuno Morais Sarmento desabafa: “já não posso ouvir falar dos direitos, dos direitos. Todos têm direito a ser candidatos. Com certeza. Até os palhaços de circo têm direito a ser candidatos”.
O social-democrata argumenta que, “por respeito por nós próprios e pela função de Presidente da República, não posso achar que faça grande sentido, para além da gente se rir , à candidatura de Tino de Rans e por aí fora.
Marcelo e o PSD
Morais Sarmento diz que Marcelo tem recusado o apoio directo dos partidos “não para renegar as origens mas para marcar o quão individual é este gesto” de se candidatar a Belém.
Para o social-democrata esta é uma marca distintiva da candidatura de Marcelo face a outras. E até admite que seria sempre assim.
“Marcelo Rebelo de Sousa, fosse qual fosse o líder do PSD, teria feito o que fez a Passos Coelho. Se calhar fez a este com maior vontade e gosto: por um lado impôs-se como candidato e por outro disse “ sou candidato, muito obrigado, não preciso de muletas ou apoios”.