16 jan, 2016 - 18:47
O líder do movimento político espanhol Podemos lamenta que Espanha não possa contar com um Partido Socialista como o português, acusando de incoerência o PSOE, por dizer que quer negociar à esquerda, mas depois pactua com a direita.
"Infelizmente em Espanha não contamos com um Partido Socialista como o de Portugal. Quando vi o secretário-geral do PSOE vir aqui isso despertou muitas expectativas", porque "falou de um Governo à portuguesa" [com o apoio da esquerda], mas "três dias depois, pactuou com a direita a composição da mesa do Congresso", afirmou Pablo Inglesias, que participa hoje no megacomício da candidata presidencial portuguesa apoiada pelo Bloco de Esquerda (BE), Marisa Matias, em Lisboa.
Hoje, quando questionado pelos jornalistas sobre a possibilidade de um novo acto eleitoral para ultrapassar o impasse governativo em Espanha, o líder do Podemos foi peremptório: "nós não desejamos que haja novas eleições em Espanha mas não vamos permitir, nem activamente nem passivamente, que governe o PP" (Partido Popular, direita) no poder.
O secretário-geral do Podemos acusou o líder do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), Pedro Sanchéz, de um dia, quando reuniu com o líder socialista António Costa, dizer Portugal e "quando volta a Espanha prefere dizer Alemanha", numa referência ao facto de o centro-esquerda alemão (SPD) ter viabilizado o governo de Angela Merkel (CDU, de direita).
"Oxalá em Espanha contássemos com um Partido Socialista que demonstrasse algo parecido com aquilo que demonstrou o português", reiterou, considerando que os socialistas "em Portugal tomaram uma decisão positiva em relação a sectores que defendiam continuar entrincheirados com os poderosos".
Iglesias abordou ainda as "linhas vermelhas" nas negociações do Podemos para viabilizar um executivo socialista, reagindo à alegada intransigência do seu movimento sobre a independência da Catalunha, uma matéria que o PSOE não quer sequer discutir.
"Quem estabeleceu que há temas dos quais não se pode falar e quem disse uma coisa e fez outra foi o PSOE. O PSOE disse que não se poderia sentar a uma mesa com as formações políticas que defendiam a independência da Catalunha. Não é o nosso caso. Nós defendemos a unidade de Espanha, mas somos democratas", enfatizou.
O líder do Podemos garante que o partido vai "trabalhar para que haja uma alternativa ao PP".
No entanto, "para construir uma alternativa ao PP o mais razoável é não compactuar com o PP", ironizou, considerando que isso foi o que fez o PSOE em relação à mesa do congresso.
Marisa promete lutar contra a Constituição dos "donos disto tudo"
A candidata presidencial Marisa Matias promete lutar contra a Constituição dos "donos disto tudo", "ilegal e secreta" e que se impõe à lei aprovada, afirmando que há candidatos que apenas podiam jurar a capa do texto constitucional.
Num comício que esgotou o cinema São Jorge, em Lisboa, Marisa Matias disse que "há uma Constituição ilegal e secreta que manda em Portugal e é simplesmente a que se faz em Bruxelas e Berlim, nas administrações, na banca e nos gabinetes dos advogados. É a Constituição dos donos de isto tudo".
Para a candidata, esta Constituição "não escrita impõe-se à lei que foi aprovada" e que "esquece tudo e ignora tudo porque é a lei dos interesses".
Segundo a candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda, há "nesta campanha os candidatos da conversa fiada, que têm medo de tudo, que aceitam tudo, que se preocupam muito mais com a cerimónia e com o palácio do que com a dificuldade da vida das pessoas", ironizando que a leitura de "vários candidatos do texto constitucional não chega sequer ao preâmbulo".
E por isso Marisa Matias questiona o que é que estes opositores apoiam, concluindo que é apenas "o nome da lei, a capa da Constituição" e que por isso, caso a jurassem, teriam que alterar o texto e dizer: "juro por minha honra cumprir e fazer cumprir a capa da Constituição da República Portuguesa".
Marisa Matias assume-se como uma das pessoas de um "povo que luta" e deixa o aviso: "eu sou a candidata perigosa para os calcinhas, para a tristeza, para a fatalidade. Eu vibro mesmo com a luta do meu povo".
"Eu, Marisa Matias, de 39 anos, vou convoco à guerra contra a política vazia e vou levantar a voz das pessoas que são sempre sacrificadas", garantiu.
A candidata apoiada pelo BE insistiu ainda na ideia de que ainda é possível uma segunda volta, "que fado não é fatalidade, que a partida não acabou" e que ainda está tudo em aberto nestas eleições presidenciais.