18 jan, 2016 - 16:59 • João Carlos Malta
Maria de Belém lançou a candidatura à Presidência da República quando na área socialista já havia um candidato, Sampaio da Nóvoa. Mas o ex-reitor da Universidade de Lisboa não tinha o apoio oficial do PS. A antiga presidente do PS até começou por desvalorizar a ausência formal do partido, publicamente, mas à entrada da última semana mudou de estratégia.
Depois de uma sondagem apontar para a ultrapassagem por Sampaio da Nóvoa e uma perda de quase dois pontos percentuais por Belém, bem como uma presença cada vez mais evidente da máquina socialista na candidatura de Nóvoa, denunciada por Vera Jardim e Manuel Alegre, Maria de Belém arrancou a última semana de campanha a marcar uma posição de força.
“Estive em todas as grandes lutas do Partido Socialista, estive na escolha e na eleição de vários secretários-gerais, uma vez de um lado, outra vez do outro, e foi isto que fez do PS um grande partido da diversidade e da tolerância e, portanto, socialista candidata, sou eu!”, avisou no domingo.
Um pouco antes, numa alfinetada a Sampaio da Nóvoa, lembrou que não decidiu candidatar-se ao mais alto cargo da nação porque tenha tido “um sobressalto cívico tardio” ou por precisar de "lugares”.
Já esta segunda-feira, em entrevista à Renascença, Maria de Belém entendeu ainda esclarecer o sentido das palavras que tinha proferido no dia anterior. “O que afirmei foi que sou militante socialista e aquilo que é importante que se saiba é que não é um ónus, nem uma menos-valia”.
E antes, como foi?
Mas nem sempre foi assim. Depois de António Costa ter apelado à participação dos militantes e simpatizantes do PS nas duas candidaturas próximas do partido, Maria de Belém desvalorizou a falta de apoio oficial.
"O PS decidiu não apoiar nenhum candidato especificamente à Presidência da República, eu sempre tenho dito que tenho concordado com essa posição, porque isso dá mais relevo à independência das candidaturas como acto de cidadania", afirmou a candidata presidencial.
Dois dias antes tinha dito que “as iniciativas de candidatura são pessoais, independentes dos partidos. Sinto-me muito confortável com esta situação.”
Uns dias antes, sobre o mesmo tema, Maria de Belém disse que preferia não ter o apoio expresso do Partido Socialista na sua corrida à Presidência. "Nós não podemos fazer política no século XXI como se fazia no século XX", afirmou. Numa eleição que não é partidária "deve ser respeitado pelos partidos um espaço de escolha dos cidadãos".
Paradoxo?
O politólogo António Costa Pinto admite que pode “parecer um paradoxo numa candidatura afirmar-se como independente e agora reivindicar-se do PS”. Mas, explica, a candidata “está numa posição difícil face a Marcelo Rebelo de Sousa e há mesmo sectores no PS a apoiar Sampaio da Nóvoa.”
O professor do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa diz que a candidatura de Maria de Belém, "embora autónoma", "tem sempre utilizado o seu capital enquanto ex-presidente do PS e candidata associada ao PS".
"Creio que perante Sampaio da Nóvoa e devido a algumas tensões no próprio interior do Partido Socialista, Maria de Belém verifica que o aparelho do partido está mais com Sampaio da Nóvoa e por isso provoca uma nova associação ao PS", explica à Renascença.
António Costa Pinto diz que com esta atitude Maria de Belém quer “pôr a máquina do PS a apoiá-la”.
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