24 jan, 2016 - 21:01
Marcelo Rebelo de Sousa conquistou o eleitorado de direita que não votou Passos Coelho nas legislativas de Outubro, mas não pescou em todos os partidos, afirma Nuno Garoupa, presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), um dos comentadores da noite eleitoral da Renascença.
“É cedo para fazer essas leituras, mas em números redondos penso que dificilmente pode ter acontecido isso. Marcelo terá entre 2,4 milhões a 2,5 milhões de votos. Isto é o resultado que Cavaco Silva teve em 1996 e 2006. Eu diria que Marcelo foi buscar o eleitorado de direita que não votou Passos em Outubro. Não fez muito mais do que isso. A ideia de Marcelo como um candidato transpartidário, que ia buscar a todos os partidos, penso que os resultados não vão apontar para isso.”
Para Nuno Garoupa, “não estamos a falar de uma vitória de 60% ou 65%, mas de 51% a 52%, que é uma vitória que está em linha com Cavaco Silva, em 2006 e 2011”.
"Dentro do PS não vamos sentir consequências, porque o PS está no Governo, mas penso que ficou claro que qualquer veleidade de uma ala mais moderada do PS se separar ou criar problemas à liderança de António Costa terminou esta noite, porque se tornou completamente irrelevante do ponto de vista eleitoral e tem um resultado muito fraco. Se é virtude ou defeito da candidata Maria de Belém ou do que se passou esta semana, teremos que deixar para quem faz os estudos eleitorais”, diz.
Questionado se estas presidenciais marcam uma alteração do paradigma à esquerda do PS, Nuno Garoupa destaca o “resultado humilhante do PCP”, com Edgar a ficar no quinto lugar, e a consolidação do Bloco de Esquerda (BE), com o bom resultado de Marisa Matias.
“Além de confirmar o resultado das legislativas, de que o BE vale mais do que o PCP, confirmou outro indicador muito mais grave: o BE mobiliza e mantém o seu eleitorado, voltando a conseguir cerca de 10%, como nas legislativas. Enquanto o PCP, pela primeira vez, tem um resultado humilhante e, olhando para os resultados distritais, terá perdido muito eleitorado para Sampaio da Nóvoa. Isto vai ter repercussões profundíssimas à esquerda do PS. É um bom resultado para António Costa. Enquanto o BE se afirma como a grande força a esquerda, o PCP tem um problema”, sublinha.
Campanha de Belém foi "desastrosa"
O jornalista José Alberto Lemos considerou, na antena da Renascença, que a campanha de Maria de Belém foi “desastrosa” e ainda “levou em cima” com a polémica das subvenções vitalícias dos antigos políticos.
Já a candidatura de Sampaio da Nóvoa “conseguiu congregar o essencial do eleitorado socialista” e Marcelo conquistou votos no centro-esquerda.
José Alberto Lemos alerta para sintomas de “declínio do PCP”. “Além da questão etária, o PCP tem uma imagem cada vez mais fossilizada que se vai acentuar, a menos que altere a sua liderança e conquiste eleitorado jovem. Podemos ter um cenário muito próximo da Espanha e Grécia”, em que os partidos comunistas perderam para novos movimentos de esquerda como o Podemos e o Syriza e se tornaram “residuais”.
“Não sei até que ponto António Costa fica mais tranquilo com esta recomposição de forças à sua esquerda, porque o PCP parece ser mais fiável do que o Bloco de Esquerda, que é um partido mais inorgânico”, diz José Alberto Lemos.
No especial eleições presidenciais da Renascença, Luís Santos, especialista em comunicação social, considerou que estas eleições e as legislativas indiciam mudanças à esquerda.
“Talvez estejamos a caminhar para uma mudança. Não sei se vamos evoluir para uma situação como na Grécia e Espanha, mas poderá haver uma grande força a esquerda do PS. O eleitorado jovem parece ser muito mais adepto desta força emergente do que uma força como o PCP”, sublinha o professor universitário.