Afinal a resiliência e determinação que os combatentes do Estado Islâmico têm demonstrado em batalha poderá não dever-se exclusivamente à fé que invocam nos seus discursos.
Uma reportagem publicada esta segunda-feira pela Vice News apresenta aquilo que poderá ser a primeira prova concreta de que os líderes do grupo islamita distribuem droga entre os seus combatentes.
O jornalista Joakim Medin descreve como foi recebido numa base dos soldados curdos, conhecidos como Peshmerga, que defendem a cidade, tentando libertá-la do Estado Islâmico depois de mais de 100 dias de cerco. No seu pequeno quartel, perto da frente de batalha, os militantes estavam muito entusiasmados com o sucesso de um ataque levado a cabo contra a casa de um alegado líder do Estado Islâmico, na véspera do Natal. O líder dos islamitas, Emir Abu Zahra, terá sido morto no ataque e vários dos seus pertences pessoais trazidos, ou como troféus ou para análise, como por exemplo no caso de um computador. Em cima da mesa, um saco cheio de pó branco desperta a atenção do jornalista.
Os curdos afirmam não saber o que é, mas que um pó parecido tem sido encontrado na posse de outros militantes do Estado Islâmico mortos durante as batalhas. Seringas, ampolas não identificadas e outra parafernália geralmente associada ao uso de drogas também têm sido encontrados.
É então que Medin prova um pouco do pó, reconhecendo o seu sabor como sendo cocaína.
A utilização de drogas como cocaína, que podem inibir o medo e a dor, por exemplo, para além de darem energia e força a quem os consome, pode explicar a resiliência e a determinação demonstrada em várias frentes de guerra pelos militantes do Estado Islâmico e que os próprios atribuem a uma fé cega nos objectivos e nos valores islâmicos do grupo.
Mas a comprovar-se esta prática é um claro caso de dois pesos e duas medidas, uma vez que nos territórios que ocupa o autodenominado Estado Islâmico gaba-se de castigar duramente traficantes e consumidores de droga, bem como consumidores de tabaco, álcool e pornografia, por exemplo. Os materiais, quando apreendidos, são queimados em público e as imagens divulgadas nas redes sociais, como prova da adesão dos jihadistas à lei islâmica.
Esta alegação da Vice surge pouco depois de um grupo de residentes de Raqqa, a capital do Estado Islâmico, na Síria, ter publicado num site de resistência ao grupo informação sobre massacres levados a cabo pelo Estado Islâmico contra os seus próprios militantes, incluindo estrangeiros, acusados de variados crimes contra o autodenominado califado e os seus objectivos.
Segundo alguns relatos, o número de militantes executados ultrapassa a centena e poderá ser um sinal de fracturas entre os islamitas que ainda ocupam cerca de um terço do Iraque e da Síria.
Entretanto em Kobani, segundo informação veiculada pelos curdos, os peshmerga terão feito grandes avanços, auxiliados pelos ataques aéres da coligação internacional liderada pelos Estados Unidos, conquistando mais território aos islamitas e controlando agora a maior parte da cidade.
Kobani situa-se junto à fronteira com a Turquia, do lado da Síria, e está cercada em três lados pelo Estado Islâmico, que tenta ocupar a cidade há 114 dias. Mais do que estratégica, a cidade tem-se tornado um símbolo da resistência no terreno a um grupo terrorista conhecido pelas suas tácticas violentas e cruéis.