O autodenominado Estado Islâmico
atacou o campo de refugiados de Yarmouk, na Síria, onde se encontram muitos militantes do grupo fundamentalista islâmico Hamas.
À primeira vista a rivalidade entre o autodenominado
Estado Islâmico e os palestinianos que seguem o Hamas pode parecer estranha, uma vez que o segundo também se identifica como um movimento islâmico radical, ao contrário da Fatah, o outro movimento político palestiniano que governa a Cisjordânia e é secular.
Mas há várias questões que levam os jihadistas do Estado Islâmico a contestar o Hamas. Em primeiro lugar, o Estado Islâmico é de tendência salafita, que defende que todos os muçulmanos devem imitar ao máximo o estilo de vida dos tempos de Maomé e dos seus seguidores. O Hamas não é salafita.
Os salafitas recusam a ideia de estados independentes, considerando mesmo que estes são anti-islâmicos e que todas as nações muçulmanas devem estar unificadas sob um único líder, o califa. Por essa razão, recusam as motivações da luta do Hamas, que invoca a criação de um estado independente.
Mas uma das principais objecções do Estado Islâmico em relação ao Hamas é o facto de este receber apoio e instruções do Hezbollah, que por sua vez está na órbita do Irão. Tanto um como o outro são xiitas, apesar de a maioria dos palestinianos, e mesmo os militantes do Hamas, serem sunitas. No início da guerra da Síria, quando alguns combatentes do Hamas tentaram entrar para auxiliar os rebeldes, na sua maioria sunitas também, o Hezbollah, que luta ao lado do regime de Assad ordenou-lhes que regressassem imediatamente a Gaza.
Do ponto de vista regional, esta aliança, que para o Hamas é estratégica, uma vez que recebe apoio logístico directamente do Hezbollah, no Líbano, é uma anomalia. Em todo o Médio Oriente o pano de fundo para a grande maioria dos conflitos actualmente tem a ver com a rivalidade entre sunitas e xiitas.
As provas desta antipatia entre o Estado Islâmico e o Hamas tinham-se resumido sobretudo a mensagens nas redes sociais até que o grupo salafita atacou e ocupou grande parte do campo de refugiados palestinianos de Yarmouk, em Damasco, no início de Abril. Aí começaram a surgir fotografias e relatos de militantes e civis palestinianos executados e decapitados.