O Papa Francisco fez esta terça-feira, no Equador, uma ligação entre a necessidade de se cuidar da natureza e os cuidados a ter com a educação dos jovens.
Num discurso feito perante elementos do mundo académico, incluindo professores e estudantes, Francisco partiu da passagem do Evengelho sobre o semeador para explicar que Jesus falava através deste tipo de parábolas "de forma que todos pudessem entender. Jesus não procura 'doutorear', pelo contrário, quer chegar ao coração do homem, à sua inteligência, à sua vida, para que esta dê fruto".
Depois, o Papa pegou no facto de a parábola falar de diferentes tipos de terra, de sementes e de cultivo para regressar ao tópico da ecologia, sobre o qual escreveu recentemente uma encíclica que, aliás, citou por diversas vezes.
Deus, diz Francisco, não se limita a conceder vida ao homem. "Dá-lhe a terra, a criação. Não só lhe dá uma companheira e infinitas possibilidades; mas faz-lhe também um convite, dá-lhe uma missão. Convida-o a participar na sua obra criadora, dizendo: cultiva! Dou-te as sementes, a terra, a água, o sol; dou-te as tuas mãos e as dos teus irmãos. Aqui o tens; também é teu. É um presente, um dom, uma oferta. Não é algo de adquirido, comprado; mas antecede-nos e ficará depois de nós. É um presente dado por Deus para, juntamente com Ele, podermos fazê-lo nosso".
Este convite ao cultivo, porém, vem acompanhado de outro: "Somos convidados não só a participar na obra criadora cultivando-a, fazendo-a crescer, desenvolvendo-a, mas também a cuidá-la, protegê-la, guardá-la. Hoje, este convite impõe-se-nos forçosamente. Já não como uma mera recomendação, mas como uma necessidade devido ao 'mal que provocamos [à terra] por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou'", diz Francisco.
É aqui, porém, que o Papa faz a inesperada ligação entre as duas realidades. "Uma coisa é clara! Não podemos continuar a desinteressar-nos da nossa realidade, dos nossos irmãos, da nossa mãe terra. Não nos é lícito ignorar o que está a acontecer ao nosso redor, como se determinadas situações não existissem ou não tivessem nada a ver com a nossa realidade (...) Neste contexto universitário, seria bom interrogarmo-nos sobre a nossa educação a respeito desta terra que clama ao céu."
E Francisco lançou, então, várias questões retóricas aos presentes. "Velais pelos vossos alunos, ajudando-os a desenvolver um espírito crítico, um espírito livre, capaz de cuidar do mundo actual? Um espírito que seja capaz de procurar novas respostas para os múltiplos desafios que a sociedade nos coloca? Sois capazes de os estimular para não se desinteressarem da realidade que os rodeia? Como entra, nos currículos universitários ou nas diferentes áreas do trabalho educativo, a vida que nos rodeia com as suas perguntas, interpelações, controvérsias? Como geramos e acompanhamos o debate construtivo que nasce do diálogo em prol de um mundo mais humano?"
"Como ajudamos os nossos jovens a não olhar um grau universitário como sinónimo de maior posição, dinheiro, prestígio social? Ajudamos a ver esta preparação como sinal de maior responsabilidade perante os problemas de hoje, perante o cuidado do mais pobre, perante o cuidado do meio ambiente?", insiste Francisco.
E aos alunos o Papa deixou também umas questões. “"abeis que este tempo de estudo não é só um direito, mas um privilégio que tendes? Quantos amigos, conhecidos ou desconhecidos, queriam ter um lugar nesta casa, mas, por várias circunstâncias, não conseguiram? Em que medida o nosso estudo nos ajuda a ser solidários com eles."
Este foi o segundo momento público do Papa em Quito, capital do Equador, onde se encontra no início da sua viagem à América Latina que, ao longo de dez dias, o levará ainda à Bolívia e ao Paraguai.
Ainda esta terça-feira o Papa tem marcado um encontro com representantes da sociedade civil.