O apoio dado pelos países ocidentais a grupos moderados que lutam contra o regime na Síria é contraproducente e acaba por ir parar aos extremistas. Quem o diz é o Patriarca da Igreja Melquita, Gregório III.
“Se o ocidente ajudar os moderados da Síria de forma directa, está a ajudar o Estado Islâmico de forma indirecta. Se derem dinheiro aos grupos fracos e moderados num dia, no dia seguinte irá parar aos grupos fortes. Vemos isto a acontecer todos os dias.”
O Patriarca admite que não tem qualquer informação sobre o paradeiro do padre jesuíta Paolo Dal’Oglio nem de outros seis sacerdotes clérigos, incluindo dois bispos, que estão desaparecidos na Síria, na maioria raptados por grupos fundamentalistas islâmicos.
“Quem sabe o que lhes aconteceu? Quem sabe se ainda estão vivos?”, disse o Patriarca.
A situação militar na Síria tem-se tornado mais desfavorável para o Governo nas últimas semanas, com Bashar al-Assad a admitir na televisão que as dificuldades obrigam o regime a escolher as suas batalhas, não podendo combater o Estado Islâmico e outros grupos rebeldes em todas as frentes.
Os cristãos que vivem em território controlado pelo regime entendem estes sinais como uma ameaça à sua segurança e, como tal, têm começado a abandonar novamente o país em grandes números, diz o Patriarca desta igreja oriental que está em comunhão com Roma.
“Todos os dias há pessoas que abandonam o país, algumas com vistos, outras sem. Às vezes levam com elas milhares de dólares americanos, na esperança de alcançar a Europa, exponde-se assim à exploração, ou pior.”
Segundo o Patriarca pelo menos 450 mil cristãos sírios vivem actualmente como refugiados no estrangeiro ou como deslocados internos. Pelo menos 40 mil vivem na Alemanha e 50 mil na Suécia. Contudo, há também algumas notícias positivas, com Gregório III a referir que muitas famílias cristãs estão a regressar às suas terras quando estas se tornam novamente seguras. O Patriarca dá o exemplo da vila de Maaloula, perto de Damasco, que chegou a ser ocupada por fundamentalistas islâmicos mas que está agora nas mãos de forças governamentais e para onde terão regressado recentemente 450 famílias cristãs.
Nesta entrevista à fundação Ajuda à Igreja que Sofre, o Patriarca confirmou que a presença cristã na região está a diminuir, mas mostrou-se confiante no futuro.
“Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para manter os cristãos, tanto quanto possível, no berço da Cristandade. Aqui os cristãos desempenham um papel importante, de missão, presença e diálogo. Não nos preocupamos apenas com os cristãos, mas tentamos promover o diálogo e cuidamos de todas as pessoas”, refere.
[Notícia corrigida às 13h15 de dia 29]