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Mais cristãos raptados na Síria. Uma história que se repete desde 1915

07 ago, 2015 - 21:14 • Filipe d’Avillez

“Um leão foi morto e todo o mundo se enfureceu. Agora vemos todas estas pessoas a serem raptadas e massacradas, porque é que o mundo não se está a enfurecer?”, pergunta o jornalista assírio Nuri Kino.  

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O rapto de mais 250 cristãos de etnia assíria no Médio Oriente é algo que enche a comunidade de ansiedade, mas não de surpresa.

Os assírios, conhecidos também como siríacos ou caldeus, são um grupo étnico, exclusivamente cristão, que vive entre a Síria, Iraque, Líbano e Turquia.

A Renascença conversou com o jornalista e activista assírio Nuri Kino, que vive na Suécia, onde fundou a organização A Demand For Action, que promove a causa dos assírios. Com base em informações recolhidas no terreno, Kino explica o que se passou desta vez.

“O Estado Islâmico ocupou a cidade de Al-Quarayatayn e cerca de 1500 pessoas conseguiram fugir. A maioria procurou refúgio nas igrejas de Homs. O bispo Siríaco Ortodoxo conseguiu fazer uma lista de 250 desaparecidos”, explica.

Nesta altura não se sabe sequer se os raptados estão vivos. “Tudo o que sabemos é que têm os telemóveis desligados”, diz Nuri Kino. A julgar por casos anteriores, é natural que as vítimas não tenham sido mortas.

Em Fevereiro passado um número parecido de cristãos foi raptado de Khabour, perto de Hassakeh, na Síria. Desses, pelo menos 222 continuam nas mãos do Estado Islâmico, mas ao longo dos meses outros foram libertados, o que permite esperar que a situação acabe da melhor maneira.

“Sem dúvida”, diz Nuri Kino, “mas sabemos também de raptos em Mosul e Niníve [no Iraque] de pelo menos uma mulher e uma criança assírias que foram oferecidos a membros do Estado Islâmico como presentes.”

Perante a situação que se vive no terreno, muitos assírios tentam fugir para a América do Norte ou para a Europa, onde existem grandes comunidades, sobretudo na Alemanha e na Suécia. Quem fica vive em estado de constante incerteza. “É devastador, e as pessoas continuam a fugir. Aqueles que conseguiram fugir de Khabour foram para Hassakeh, os que foram para Hassakeh foram para Qamishli, de Qamishli de volta para Khabour, onde havia muitas minas. Agora não sabem mais para onde fugir.”

“A história continua a repetir-se, tem-se repetido desde 1915, depois em 1933 e por aí fora e agora, há mais de 10 anos que temos alertado o mundo para este genocídio, mas não se faz nada para salvar os cristãos da Síria e do Iraque”, lamenta.

Nuri Kino, cuja avó foi a única sobrevivente do genocídio de cristãos arménios e assírios pela Turquia em 1915, diz que a falta de acção o deixa sem palavras.

“Não sei, não tenho palavras. Um leão foi morto e todo o mundo se enfureceu. Agora vemos todas estas pessoas a serem raptadas e massacradas, porque é que o mundo não se está a enfurecer?”, pergunta.

Triste, mas não surpreendente
O conjunto de perseguições a que os cristãos têm sido sujeitos é algo que entristece a os assírios, mas não os deixa surpreendidos.

“Nós avisámos sobre o que se ia passar em Mosul e na planície de Nínive. Durante anos, tanto em Washington como em Bruxelas, avisamos para esse perigo, tememos isso. Por isso é muito triste, é horrível, mas não é surpreendente”, diz Nuri Kino.

Esta sexta-feira outra organização assíria, a União Siríaca Europeia, emitiu um comunicado alertando para o perigo que existe para outras povoações assírias na região. “Tememos que os cristãos siríacos de Sadad sejam os próximos alvos, uma vez que Sadad fica a apenas meia-hora de carro de Al-Quarayatayn”, lê-se no documento.
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