25 set, 2015 - 17:06 • Aura Miguel , em Nova Iorque, e Filipe d’Avillez
O Papa Francisco visitou esta sexta-feira o local do atentado contra as Torres Gémeas, dizendo que “aqui a dor é palpável”.
Francisco encontrou-se com familiares das vítimas, nomeadamente dos socorristas que morreram em serviço, fazendo uma leitura do monumento de homenagem aos mortos: “A água, que vemos correr para este centro vazio, lembra-nos todas aquelas vidas que estavam sob o poder daqueles que crêem que a destruição seja o único modo de resolver os conflitos. É o grito silencioso de quantos sofreram na sua carne a lógica da violência, do ódio, da vingança. Uma lógica, que só pode produzir angústia, sofrimento, destruição, lágrimas”.
“Este é um lugar onde choramos; choramos a angústia provocada por nos sentirmos impotentes perante a injustiça, perante o fratricídio, perante a incapacidade de resolver as nossas diferenças dialogando.”
“Aqui, no meio duma angústia lancinante, podemos palpar a bondade heróica de que também é capaz o ser humano, a força escondida a que sempre devemos recorrer. No momento de maior angústia, sofrimento, fostes testemunhas dos maiores actos de dedicação e de ajuda", disse.
“Este lugar de morte transforma-se também num lugar de vida, de vidas salvas, numa canção que nos leva a afirmar que a vida está destinada sempre a triunfar sobre os profetas da destruição, sobre a morte, que o bem prevalece sempre sobre o mal, que a reconciliação e a unidade sairão vencedores sobre o ódio e a divisão.”
Foi precisamente no “Ground Zero”, onde se deu um evento que incendiou durante décadas as relações entre o Islão e o Ocidente, que Francisco se encontrou com líderes de diferentes comunidades religiosas. “Enche-me de esperança, neste lugar de angústia e recordação, a oportunidade de me associar aos líderes que representam as numerosas religiões que enriquecem a vida desta cidade. Espero que a nossa presença aqui seja um sinal vigoroso das nossas vontades de compartilhar e reiterar o desejo de sermos forças de reconciliação, forças de paz e justiça nesta comunidade e em todo o mundo. Apesar das diferenças, das discrepâncias, é possível viver num mundo de paz.”
Diálogo inter-religioso
Antes de tomar a palavra, Francisco ouviu as palavras de um rabino e um imã, em representação das comunidades judaica e muçulmana de Nova Iorque. Falando de forma intercalada, condenaram a intolerância religiosa, que atribuíram à ignorância. O rabino Elliot Cosgrove evocou mesmo as palavras de Francisco ao dizer que “hoje e sempre, devemos compreender a nossa missão partilhada como um hospital de campanha para sarar as feridas e aquecer os corações da humanidade, tão desesperados de consolo”.
O imã Khalid Latif falou também do exemplo heróico dos que sacrificaram a sua vida para salvar outros no dia 11 de Setembro. “Enquanto o pior da humanidade procurava ceifar vidas, eles exemplificaram o melhor da humanidade através da sua doação de si e da disponibilidade de entregaram toda a sua vida para salvar os seus irmãos”.
No final do seu discurso, Francisco desafiou os presentes a rezar em conjunto pela paz. “Peçamos ao Céu o dom de nos comprometermos pela causa da paz. Paz nas nossas casas, nas nossas famílias, nas nossas escolas, nas nossas comunidades. Paz naqueles lugares onde a guerra parece não ter fim. Paz naqueles rostos que nada mais conheceram senão angústia. Paz neste vasto mundo que Deus nos deu como casa de todos e para todos. Somente, paz.”
Esta sexta-feira o Papa tem ainda um encontro com famílias de imigrantes e celebra missa no icónico Madison Square Garden, antes de viajar para Filadélfia, onde estará sábado e domingo no Encontro Mundial das Famílias.