05 out, 2015 - 18:53 • Aura Miguel , em Roma
O cardeal francês André Vingt-Trois, arcebispo de Paris e presidente delegado desta assembleia sinodal, fez esta segunda-feira um aviso à navegação, sobretudo à imprensa, no que diz respeito às expectativas para o sínodo sobre a família.
“Se vieram a Roma com a ideia de regressarem com uma mudança espectacular da doutrina da Igreja, vão ficar desiludidos. Por isso, está fora de questão imaginar ou esperar que o sínodo recomende ao Papa tomar medidas gerais que evitassem enfrentar a questão da liberdade individual das pessoas e que implicam um compromisso pessoal. Temos de ser claros convosco, para evitar que amanhã façam as mesmas perguntas e recebam as mesmas respostas.”
Vingt-Trois aproveitou ainda para explicar que embora a Igreja seja chamada constantemente a ler os “sinais dos tempos”, estes não devem ser confundidos com os “ventos da moda”.
“Os ventos da moda não são os sinais dos tempos; isso é outra coisa. Os sinais dos tempos são um acto de discernimento e de interpretação dos acontecimentos, à luz das Escrituras. Os ventos da moda são uma forma de pressão para se destacar ou não certas coisas, consoante o modo como são tratadas. Eu não penso que o Papa esteja totalmente submetido à pressão dos ventos da moda. Penso mesmo que ele é totalmente livre.”
Essa liberdade estende-se ao próprio, admitiu o cardeal. “E, pessoalmente, tenho 73 anos; daqui a dois anos afastam-me do meu cargo, não tenho nada a perder. Por isso, não tenho nada a recear por não estar sintonizado com os ventos da moda e continuo muito livre perante tudo o que oiço.”
“Não é por haver esposos infiéis que a fidelidade é má”
Incontornável, num encontro com jornalistas dos principais media mundiais, a polémica revelação na véspera do sínodo feita por um monsenhor com responsabilidades no Vaticano sobre a sua própria homossexualidade.
"Nós não somos porta-vozes de todos os que compõem o corpo da Igreja. Nós tentamos escutar a Palavra de Deus, de a pôr em prática como podemos, com as nossas fraquezas e pobrezas, mas nem as nossas fraquezas, nem as nossas pobrezas nos dispensam daquilo que devemos fazer", comenta Vingt-Trois.
“Não é mais do que a fraqueza e a pobreza de um marido perante a sua mulher e filhos, ou da mulher perante o seu marido e filhos... E isso não desqualifica o parentesco nem o casamento. Não é por haver esposos infiéis que a fidelidade é uma coisa má. Por isso, tentamos avançar com modéstia, mas confiantes, porque sabemos ser portadores de algo que ultrapassa em muito as nossas próprias capacidades e forças”, afirmou o arcebispo de Paris.
Apesar de o início do sínodo ter sido no domingo, com a celebração da missa inaugural, só esta segunda-feira começaram verdadeiramente os trabalhos. Esta semana começam já os trabalhos de grupo, para que possa haver maior diálogo e ainda mais testemunhos do que no sínodo do ano passado.