07 out, 2015 - 13:54 • Aura Miguel , em Roma, e Filipe d’Avillez
O arcebispo de Filadélfia, Charles Chaput, admite que existem lóbis no sínodo dos bispos e que isso é perfeitamente normal.
Em resposta a uma pergunta da Renascença esta terça-feira, na conferência de imprensa diária, o arcebispo explicou o que entendeu pelo pedido do Papa Francisco para que os bispos evitem uma “hermenêutica da conspiração” durante o sínodo.
Antes de Chaput falar, os outros dois bispos presentes, Laurent Bernard Marie Ulrich, de Lille, França e Salvador Piñeiro, arcebispo de Ayacucho, no Peru, explicaram que o Papa pretendia, com essas palavras, apelar à unidade dos bispos. O americano, porém, foi mais franco, confirmando que existem lóbis entre os presentes no sínodo.
"O Santo padre disse que devíamos deixar de pensar uns nos outros como estando a conspirar, mas que devíamos trabalhar pela unidade entre os bispos. É a sua tarefa promover a unidade, não só entre os bispos mas para toda a Igreja, e confiar que Deus orienta a sua Igreja."
"Ao mesmo tempo nunca estive num encontro da Igreja em que não há grupos que se juntam para fazer lobbying num sentido ou noutro. Isso está a acontecer, asseguro-vos, é o que acontece quando as pessoas se juntam, e não nos devemos surpreender nem escandalizar por isso, desde que seja feito de forma transparente e honesta", diz Chaput
O que é essencial, diz Chaput, é que os bispos se lembrem de uma coisa: “Não estamos aqui para ganhar nada, estamos aqui para tentar chegar à verdade para a qual Deus, através do Espírito Santo, está a tentar orientar a sua Igreja.”
O arcebispo americano foi quem mais falou nesta conferência de imprensa e de forma mais aberta, sublinhando alguns dos problemas que se estão a verificar com os trabalhos, incluindo questões de tradução do documento original para inglês, que estão a preocupar os bispos anglófonos que, disse, tendem a ser os que têm maiores dificuldades em ler outras línguas.
Encorajar as 99 ovelhas e procurar a outra
Outra questão, disse Chaput, é um certo tom de “desespero” que existe no documento que orienta os trabalhos e que não corresponde à realidade da Igreja Universal.
O arcebispo, que acaba de receber em Filadélfia o Encontro Mundial de Famílias, diz que o "instrumentum laboris" dá a entender que as propostas da Igreja não são possíveis de viver, quando isso não é verdade. “No Encontro Mundial de Famílias assistimos a uma grande fome pela reafirmação dos ensinamentos da Igreja sobre o casamento”, disse.
A questão para o sínodo, diz Chaput, recorrendo a uma linguagem bíblica, é conseguir “encorajar as 99 ovelhas, enquanto se sai à procura daquela ovelha que se sente abandonada pela Igreja”.
Logo no início da conferência de imprensa, o bispo peruano Salvador Piñeiro lamentou também a existência de uma “linguagem dupla”, da sociedade em relação à família. “Por um lado, diz-se que a família é essencial, mas por outro facilita-se o divórcio e o aborto”, criticou.
O sínodo dos bispos sobre a família decorre desde domingo e termina no dia 25 de Outubro, data em que será apresentado um documento final com propostas. Serão entregues ao Papa, que terá total liberdade de as aceitar ou não.
[Notícia actualizada às 15h51]