09 out, 2015 - 13:50 • Aura Miguel em Roma e Filipe d’Avillez
Os bispos e restantes representantes no sínodo sobre a família já apresentaram os seus relatórios sobre os trabalhos da primeira semana e não poupam críticas ao instrumentum laboris, o documento de trabalho que serve de base às discussões.
Na conferência de imprensa desta sexta-feira, o arcebispo Joseph Kurtz, de Louisville, nos Estados Unidos, disse que o seu grupo achou a linguagem “pouco inspiradora”, demasiado negativa e com um peso eurocêntrico ou demasiado ocidental.
Outro grupo de língua inglesa chega ao ponto, no seu relatório, de dizer que “o Papa Francisco e os fiéis merecem um texto melhor”.
Também presente na conferência de imprensa, o cardeal Tagle, arcebispo de Manila, nas Filipinas, desvalorizou a questão dizendo que o instrumentum laboris serve para isso mesmo. “É um texto mártir. Tem de estar disposto a ser sacrificado, golpeado, caso contrário não valia a pena chamar 300 pessoas para o escrutinar”.
O arcebispo Carlos Osoro, de Madrid, concordou, dizendo que “o instrumentum laboris é um documento cuja função é promover o debate e deve estar disposto a morrer se for esse o caminho por onde o Espírito Santo nos levar”.
O escrutínio, este ano focado muito mais no trabalho dos pequenos grupos do que em intervenções livres no plenário, foi aliás muito elogiado tanto por Tagle como por Kurtz, que consideram que assim existe muito mais espaço para diálogo o que permitirá, se tudo correr bem, chegar a um documento final satisfatório. Este ano, revelou Kurtz, os bispos terão também mais tempo, dois dias inteiros, para analisar esse documento final antes de o votar.
“Participei em seis sínodos”, disse o cardeal filipino, “e gosto sempre de ver os relatórios dos círculos menores. Aqui temos uma visão mais alargada do que os participantes pensam. Gostei muito daquilo que vi. Os relatórios mostram a liberdade, respeito e amor pela família e pela Igreja que os delegados trouxeram para a discussão.
Existe uma abertura para com a diversidade de culturas e tradições, que traz complexidade, mas não precisa de diminuir a unidade.”
Tagle chegou mesmo a sugerir, invocando o exemplo do primeiro sínodo presidido por Paulo VI, que o documento final do sínodo poderá ser considerado definitivo pelo Papa. O sínodo é por natureza consultivo e o Papa não é obrigado a aceitar as suas conclusões. A maioria dos sínodos são seguidos de uma exortação pós-sinodal, em que o Papa apresenta a opinião definitiva da Igreja, mas pode, se assim quiser, aceitar simplesmente como final o documento apresentado pelos bispos.
O sínodo continua agora durante mais duas semanas, terminando no dia 25 de Outubro, altura em que será votado um documento final redigido com base nas propostas apresentadas pelos grupos de trabalho.