09 out, 2015 - 16:54 • Aura Miguel , em Roma e Filipe d’Avillez
Os pequenos grupos de trabalho no sínodo para a família entregaram esta sexta-feira os relatórios resultantes da primeira semana de discussão, em que foi analisada a primeira secção do instrumentum laboris, o documento que serve de base para o trabalho deste sínodo.
Os grupos são formados por linguagem. Existem quatro grupos de língua inglesa, dois de língua espanhola, três de língua francesa, três de língua italiana e uma de língua alemã. A Renascença seleccionou alguns dos principais excertos destes relatórios, aqui agrupados por tema: Excesso de negativismo; Ideologia de género; visão demasiado ocidentalizada e problemas gerais com o texto.
Excesso de negativismo
Uma grande preocupação prende-se com uma descrição exageradamente negativa da realidade contemporânea. É preciso dar mais atenção à reflexão teológica sobre casais e famílias fiéis, casadas há muito tempo que, por vezes de forma heróica, vivem um autêntico testemunho à graça da família. Expandindo no vocabulário para falar da “Boa Nova sobre a Família”, procurámos falar menos em “crise” e mais em “luzes e sombras”. Grupo A de língua inglesa
Sentiu-se que a análise das dificuldades que a família enfrenta era demasiado negativa. Grupo B de língua inglesa
Não obstante os desafios que a família enfrenta em todas as culturas, as famílias, com a assistência da graça divina, encontram em si a força para viver a sua vocação de amar, estreitar laços socais e cuidar da sociedade alargada, sobretudo os mais vulneráveis. O grupo sente que o sínodo devia expressar forte apreciação por tais famílias. Grupo B de língua inglesa
Parte da novidade, sentimos, tem de ser uma leitura menos negative da história, cultura e situação da família nos nossos tempos. É verdade, existem forças negativas em acção neste período da história e nas várias culturas do mundo; mas isso está longe de ser a história toda. Se o fosse, tudo o que a Igreja poderia fazer seria condenar. Existem também forças positivas, até luminosas, e estas devem ser identificadas, uma vez que poderão ser sinais de Deus na história. Também é verdade que o casamento e a família estão sujeitos a novas formas de pressão, mas novamente, esta não é a história completa. Muitos jovens ainda querem casar, e ainda há famílias fantásticas, muitas delas cristãs, por vezes heroicamente cristãs. Ver e falar positivamente destas coisas não é entrar numa forma de negação, pelo contrário é ver com os olhos de Deus, o Deus que olha para tudo o que criou e continua a achar que é bom. Grupo B de língua inglesa
A maior parte do nosso grupo sente que o IL devia começar com uma nota de esperança e não de falhanço, porque um grande número de pessoas já vive com sucesso a boa nova do Evangelho sobre o casamento. O nosso grupo mostrou-se preocupado que os leitores simplesmente ignorem o documento se este começar com uma litania de problemas sociais e pontos negativos, em vez de uma visão bíblica da alegria e confiança na Palavra de Deus sobre a família. As grandes nuvens de desafios que impregnam a primeira secção do texto criam, sem intenção, um sentido de desespero pastoral. Grupo D de língua inglesa
Se o casamento é uma vocação, como acreditamos que é, não o podemos promover falando em primeiro lugar dos seus problemas. Grupo D de língua inglesa
A primeira secção do texto do IL, que se dedica a “observar” os factos, deve sublinhar o bom tanto como o mau e trágico. A santidade heróica não é um ideal raro e não é meramente “possível”, mas comum e vivido de forma vigorosa em grande parte do mundo. Grupo D de língua inglesa
Ideologia do género
O nosso grupo sente que faltavam uma série de elementos do texto: uma reflexão séria da ideologia do género, maior reflexão sobre o cuidado pastoral pelos deficientes, o papel de pais e homens bem como o de mulheres e um tratamento mais profundo da natureza destrutiva da pornografia. Grupo D de língua inglesa
No contexto antropológico e cultural parece necessário fazer-se maior referência à ameaça da ideologia de género, bem como o seu impacto negativo nos programas educacionais de muitos países. Grupo A de língua italiana
Apelou-se a uma mudança da prática das organizações internacionais que condicionam a sua ajuda ao desenvolvimento dos países mais pobres à política demográfica. Grupo B de língua italiana
O grupo sublinha as implicações do parágrafo 8 sobre a teoria do género, iluminando o seu carácter ideológico e oferecendo à família uma ajuda para recuperar o seu direito à educação dos filhos no diálogo responsável com os outros sujeitos educativos. Grupo C de língua italiana
A “teoria do género” foi alvo de uma alargada discussão no nosso grupo. Deve-se sublinhar o seu carácter “ideológico”, nomeadamente quando ela é difundida por imposição de certas organizações internacionais. Grupo B de língua francesa
O surgimento do que parece ser uma nova ideologia muitas vezes chamado ideologia de género. Estes vários tipos de teorias têm sido desenvolvidas em sociologia e filosofia, tentando analisar alguns fenómenos humanos e sociais que podem enriquecer a nossa compreensão do mundo. Mas quando estas teorias se tornam absolutas, tendem a produzir um sistema de pensamento único que quer varrer tudo à sua frente. Grupo C de língua francesa
Visão demasiado ocidentalizada
Tendência para ver o mundo através de um olhar excessivamente ocidental. Grupo D de língua inglesa
A textura do texto aparece muito fortemente conotada a uma perspectiva ocidental (europeia e norte-americana), especialmente na descrição dos aspectos e desafios colocados pela secularização e individualismo que caracteriza a sociedade de consumo. Grupo C de língua italiana
Um dos participantes, com o apoio dos outros, sublinha o facto de não ser bom que o sínodo se dedique só aos problemas e crises que atingem as famílias no Ocidente. Grupo A de língua francesa
Problemas gerais com o texto
O grupo sentiu que a linguagem do documento final devia ser uma linguagem simples, acessível às famílias, mostrando dessa forma que os padres sinodais tinham escutado e ouvido as contribuições e os comentários ao processo sinodal. Grupo B de língua inglesa
Também considerámos certas frases que se tornaram comuns nos documentos da Igreja, como “Evangelho da Famíllia” e “Igreja doméstica”. Estas formulações eram vívidas e iluminadoras quando apareceram pela primeira vez, mas entretanto tornaram-se lugares comuns, cujo sentido é menos claro do que se costuma pensar. Sentimos que seria bom deixar estes termos de lado e adoptar uma linguagem mais acessível àqueles que não estão familiarizados com o nosso vocabulário. De modo geral, e sobretudo quando se fala de casamento e família sentimos que temos de ter cuidado com um vocabulário eclesiástico do qual praticamente nem damos conta. O instrumentum laboris tem mais que a sua quota parte desta linguagem e seria bom se o documento final fosse numa direcção diferente e mais arejada. Grupo B de língua inglesa
Primeiro, embora haja vários elementos admiráveis no IL, achámos que muito do texto falho ou desadequado, sobretudo no que diz respeito à sua teologia, claridade, confiança no poder da graça, utilização das Escrituras e tendência pra ver o mundo através de um olhar excessivamente ocidental. Segundo, sentimo-nos limitados na nossa capacidade de resposta por não saber claramente a quem nos dirigimos. Por outras palavras, estamos a escrever para o Santo Padre, para as famílias, para a Igreja, ou para o mundo? Grupo D de língua inglesa
Os membros do grupo criticaram muitos dos parágrafos da primeira secção. Alguns acharam a apresentação caótica, sem lógica interna. As frases pareciam ter sido coladas aleatoriamente sem qualquer ligação orgânica. Grupo D de língua inglesa
Os membros preocupam-se que a tradução inglesa possa não ser fiel ao texto oficial em italiano. Outros queixaram-se que muitas das afirmações do documento eram demasiado gerais e não suficientemente específicas. Outros ainda sentiram que o texto tinha muitas generalizações incorrectas, era demasiado palavroso e repetitivo. Grupo D de língua inglesa
No geral, os membros sentem que o Papa Francisco e os fiéis da Igreja merecem um texto melhor, um no qual as ideias não se perdem com a confusão. O nosso grupo sugere que o texto seja entregue a um único editor para ser clarificado e refinado. O material actual é claramente obra de um grupo. Por isso, falta-lhe beleza, claridade e força. Grupo D de língua inglesa
Como observação geral que surgiu durante a discussão, pede-se mais cuidado com a linguagem das traduções, que nem sempre estão de acordo com o original e, nalguns casos, usam palavras estranhas ao espanhol ou ao português. Grupo B de língua espanhola