16 out, 2015 - 13:47 • Aura Miguel , em Roma, e Filipe d’Avillez
“Não quero ser mau, digo-o fraternalmente, mas é preciso que os média procurem o positivo e não os escândalos neste sínodo”, afirmou esta sexta-feira, perante uma sala cheia de jornalistas, o primaz da Igreja Ortodoxa da Estónia e representante do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla.
O metropolita Stephanos foi um dos convidados desta sexta-feira para falar aos jornalistas sobre o que se tem passado no sínodo desde quinta-feira à tarde e esteve presente na sala de imprensa da Santa Sé ao lado do bispo Tim Thornton, da Igreja Anglicana.
Os dois participam no sínodo como “delegados fraternos”. Tal como os leigos e especialistas católicos, não têm direito a voto mas participam nas sessões plenárias e nos pequenos grupos, intervindo livremente.
Antes de tomarem a palavra, os porta-vozes do sínodo para diferentes línguas fizeram um resumo das intervenções feitas na quinta-feira à tarde e sexta de manhã, reservados de forma particular aos auditores leigos e aos delegados fraternos.
Nestes discursos foram abordados diversos temas, incluindo assuntos ligados à procriação e planeamento familiar, bem como a importância das crianças como protagonistas e não só objectos de atenção pastoral da Igreja.
Houve testemunhos de casais que prestam apoio a outros que passam dificuldades no seu casamento, e que admitem que essa experiência muitas vezes os fortalece, e também quem sublinhasse a importância de uma boa formação para jovens em questões como a família e a sexualidade, garantindo assim que venham a formar famílias saudáveis.
Pelo menos um auditor terá lamentado que uma grande percentagem dos pais não falem com os seus filhos sobre a beleza da sexualidade, deixando que eles aprendam tudo sobre o assunto através do ensino formal, com resultados “desastrosos”. É necessário que a Igreja preencha esta lacuna, afirmou.
Houve também quem realçasse que as famílias têm também os seus pontos negativos, levantando o drama do abuso sexual e do incesto, descrito como um “martírio silencioso”, e pelo menos um delegado, da Roménia, afirmou que “a missão da Igreja é salvar almas e que o mal, neste mundo, entra através do pecado e não da disparidade de rendimentos, nem das alterações climáticas” (temas frequentemente referidos pelo Papa Francisco).
Visões do Oriente e do Ocidente
Durante a conferência de imprensa, o arcebispo Stephanos aproveitou para falar da forma como a comunhão ortodoxa lida com questões que estão a dar muito que falar neste sínodo, como a questão dos divorciados recasados.
As Igrejas Ortodoxas permitem, em nome da “oikonomia”, ou misericórdia, um segundo casamento pela Igreja. A teologia ortodoxa insiste que acredita na indissolubilidade do casamento, mas diz que, em certos casos, reconhecendo a fraqueza humana, é necessária alguma complacência para com casos particulares. No caso de um segundo casamento a cerimónia é sempre penitencial, como recordação de que se trata de uma situação indesejada e resultante do pecado e da fraqueza.
Stephanos realçou este aspecto da “oikonomia”, dizendo que os padres sinodais estão a descobrir este conceito e que é preciso ser rigoroso quanto ao pecado, mas fazer tudo para trazer o pecador de volta para a comunhão.
Já o bispo Thornton elogiou muito o ambiente de diálogo no sínodo e a abertura de pessoas com opiniões diferentes falarem abertamente uns com os outros. Mas Thornton lamentou, também, que assuntos como os divorciados recasados e, em menor escala o acolhimento aos homossexuais, tenha ocupado tanto tempo quando várias pessoas tinham trazido para o sínodo questões e problemáticas não menos importantes, como a migração e problemas económicos nas famílias.
Dando o exemplo da sua própria diocese de Cornwall, no Reino Unido, o bispo inglês disse que lá o enfoque é em tornar todos discípulos de Cristo. “Isso é mais importante do que ser membro de um clube. Se conseguirmos que as pessoas se tornem discípulas de Cristo, então irão adaptar a sua vida, incluindo a vida familiar, a essa realidade”.
Thornton disse ainda que, tanto quanto se tem apercebido do ambiente no sínodo, não se deve esperar nenhuma grande mudança de prática no final. “Os padres sinodais estão a aprender a ser precisamente mais sinodais e isso tem sido uma revelação. Tem sido extraordinário ouvir dos outros padres sinodais o que se passa nos seus contextos”, afirmou, dizendo ainda que tem sido interessante observar como os bispos têm ganho confiança para dizer aquilo que realmente pensam sobre os assuntos.