12 jan, 2016 - 06:30 • Aura Miguel
Chega esta terça-feira às bancas o livro “O Nome de Deus é Misericórdia”, que resulta de uma entrevista feita pelo vaticanista Andrea Tornielli ao Papa Francisco.
As perguntas e respostas estão agrupadas em nove capítulos, sempre com a misericórdia como fio condutor. Para Andrea Tornielli, mais do que uma grande novidade, o livro revela o olhar de compaixão do Papa centrado nos Evangelhos.
A capa do livro consiste do título “O Nome de Deus é Misericórdia” manuscrito pelo próprio Papa em seis línguas, incluindo em português.
Em entrevista à Renascença, o autor da entrevista explica como nasceu e se desenrolou o projecto.
Como nasceu a ideia deste livro?
A ideia nasceu enquanto ouvia o Papa a anunciar o Jubileu da Misericórdia. Pensei que seria bom fazer-lhe perguntas sobre isso, para perceber por que é que o tema é tão central e importante no seu pontificado. Então, apresentei-lhe uma proposta de diálogo sobre a misericórdia e ele aceitou. Começámos em Julho e continuámos com um intercâmbio para sistematizar todo o texto que ficou pronto no final de 2015.
E como decorreu a conversa?
Fui lá, à Casa Santa Marta [onde o Papa vive]. Tinha-lhe enviado um esquema com perguntas e gravei com três gravadores, para ter mais segurança [risos]. Ele tinha preparado várias citações bíblicas e dos padres da Igreja, que são muito interessantes e ajudam a entrar no tema da misericórdia, e, depois, trocámos ideias sobre o que eu tinha escrito e sintetizado, para mudar, ampliar ou cortar.
O que destaca desta entrevista?
O que mais destaco, ao ouvi-lo falar dos episódios evangélicos sobre a misericórdia de Deus, é a percepção do cristianismo como história de um Deus que procura todos os caminhos para vir ao teu encontro, para descobrir uma pequena brecha para poder entrar com a sua graça.
Creio que, do ponto de vista dos ensinamentos, não há novidades – porque ele insere-se no magistério de João Paulo II e de Bento XVI – mas impressiona-me a sua insistência sobre a misericórdia.
No fundo, vivemos num tempo em que, por um lado, parece difícil reconhecer-se pecador, ou seja, reconhecer que nos enganamos.
Estamos habituados a viver numa sociedade em que são sempre os outros que erram, que a culpa é sempre dos outros e nunca é nossa… Mas também vivemos num tempo em que, para muitas pessoas, a sua situação parece irreversível e não se pode mudar. Creio que o Papa responde a estas duas realidades do mundo de hoje, revelando o rosto misericordioso da Igreja.
Isso não significa dizer que o pecado não existe, mas significa seguir a dinâmica dos evangelhos, em que Jesus fascinava os pecadores e quem O encontrava sentia-se atraído e amado e é neste abraço que nos reconhecemos pecadores e necessitados de misericórdia.
Há alguma passagem especialmente marcante para si?
Há uma resposta do Papa relacionada com a passagem do Evangelho sobre a mulher adúltera. No fundo, quando ela fica sozinha perante Deus, não diz que não é adúltera, mas a misericórdia de Deus ultrapassa a justiça.
Deste ponto de vista, o Papa dá um belíssimo exemplo. Diz que é semelhante a um céu estrelado quando surge a madrugada e nasce o sol. As estrelas são como os pecados, mas, a certa altura, a luz não nos deixa ver as estrelas. A misericórdia de Deus é mesmo superabundante.
Por que é que a capa do livro é a escrita do próprio Papa?
Achei que podia ser bonito ter uma frase escrita por ele. Pedi-lhe e ele disse que sim e escreveu estas palavras. O Papa tem uma caligrafia muito pequena, mas clara; por isso percebe-se bem o título, mesmo escrito à mão.