11 jan, 2016 - 13:05 • Aura Miguel
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O Papa Francisco dirigiu-se esta segunda-feira ao corpo diplomático acreditado junto do Vaticano com um longo discurso em que aludiu à crise dos refugiados, alertando que a Europa não se pode “dar ao luxo” de perder as suas bases humanistas, mesmo que o fluxo migratório seja “um fardo difícil de levar”.
“Nas nossas mentes e nos nossos corações, permanecerão indelevelmente gravadas as imagens das crianças mortas no mar, vítimas dos homens sem escrúpulos e da inclemência da natureza”, referiu.
O Papa diz que não se pode ignorar “a voz dos milhares que choram enquanto fogem de guerras horríveis, de perseguições e violações dos direitos humanos, da instabilidade política ou social, que frequentemente lhes tornam impossível a vida na própria pátria”.
“É o grito de quantos se vêem constrangidos a fugir para evitar barbáries indescritíveis contra pessoas indefesas como crianças e deficientes ou evitar o martírio por simples filiação religiosa”, apontou.
Perante os diplomatas acreditados no Vaticano, Francisco apelou ao grande património cultural que define a Europa para garantir o acolhimento e a assistência aos migrantes, renovando o apelo a “deter o tráfico de pessoas, que mercantiliza os seres humanos, especialmente os mais fracos e indefesos”.
Francisco lamentou a forma como o drama dos migrantes tem sido acolhido internacionalmente. “É triste constatar que muitas vezes estes migrantes não se enquadram nos sistemas de protecção baseados nos acordos internacionais”, sublinhou.
“É grave habituar-se a estas situações de pobreza e necessidade, aos dramas de tantas pessoas, fazendo com que se tornem ‘normalidade’”, prosseguiu. “As pessoas já não são vistas como um valor primário a respeitar e tutelar, especialmente se são pobres ou deficientes, se ‘ainda não servem’ (como os nascituros) ou ‘já não servem’ (como os idosos)”, sublinhou o Papa.
“Antes que seja tarde demais, muito se pode fazer para impedir as tragédias e construir a paz. Mas isto significaria pôr em discussão hábitos e práticas consolidadas, a começar pelas problemáticas relacionadas com o comércio dos armamentos, até ao problema da conservação de matérias-primas e energia, aos investimentos, às políticas de financiamento e apoio ao desenvolvimento, até à grave chaga da corrupção”, defendeu ainda Francisco.
O Papa deixou também votos para que em 2016 haja uma acção política conjunta contra o fundamentalismo terrorista na Síria, na Líbia, no Iraque e no Iémen e voltou a expressar o seu desejo de paz para a Terra Santa.