25 jan, 2016 - 16:07
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Na Jordânia, em pleno ano 2016, há pessoas a viver a sua fé tal como os cristãos dos primeiros séculos, que praticavam a fé na clandestinidade, por ser proibida pelo Império Romano.
O vigário-patriarcal da Jordânia, que representa no país o patriarca latino de Jerusalém e tem, por isso, jurisdição sobre todos os católicos de rito latino, explica à Renascença os perigos e as dificuldades que enfrentam tanto a Igreja como os fiéis que querem abandonar o islão e converter-se ao cristianismo. Na maioria dos países árabes a prática do cristianismo é permitida para as comunidades historicamente cristãs, e para imigrantes, mas a conversão, sobretudo do islão para o cristianismo ou qualquer outra religião, é proibida e duramente castigada.
Quando alguém vem pedir o baptismo, o primeiro passo é julgar a sua sinceridade. “Temos muita cautela, em primeiro lugar, para ter a certeza das boas intenções de quem diz que se quer converter. Porque podem ser enviados pelas forças de segurança para testar a nossa boa vontade. Por isso dei ordens aos meus padres de que se algum muçulmano vem dizer que se quer converter, enviem-no ao bispo e eu tenho a primeira conversa com ele. Muitos deles, quando ouvem falar no bispo, já não voltam mais”, diz Maroun Lahham.
Para os que insistem, contudo, há que explicar de forma bem clara as dificuldades que irão enfrentar. “A primeira coisa que faço é explicar-lhes as dificuldades que enfrentarão, socialmente, a nível familiar, em termos religiosos, para o casamento, para os filhos que têm de permanecer muçulmanos.”
Os que resistem após este rol de avisos são encaminhados para começar um processo de catequese. “Quando temos a certeza das suas boas intenções, digo a um ou dois padres para começar com eles um processo de catequese, que pode levar entre um e dois anos. Digo-lhes sempre que se querem ser baptizados e ficar na Jordânia, terão de viver a fé como os primeiros cristãos, escondidos”.
“Outros arranjam vistos para a Alemanha ou outros países europeus e vão para lá, onde têm liberdade de culto. Alguns, se há dificuldade em baptizá-los na Jordânia, enviamo-los para o Líbano, onde há mais liberdade. Por isso não é fácil, mas o princípio é que não se pode recusar alguém que seja sincero.”
Até Jesus tentou converter os judeus, mas não conseguiu
Em Portugal para participar numa série de conferência em Sintra, Lahham comentou ainda um documento recente da Comissão do Vaticano para as Relações Religiosas com os Judeus que diz que os cristãos não devem procurar converter os judeus ao cristianismo, uma vez que a Antiga Aliança entre Deus e Israel é irrevogável, segundo a Carta de São Paulo aos Romanos.
O bispo jordano começa por dizer, rindo, que o Patriarcado de Jerusalém não tem qualquer missão directamente dirigida aos judeus uma vez que “é muito difícil convertê-los. Jesus tentou e não conseguiu”, mas mostra depois que o argumento da comissão não o convence.
“Nesse famoso documento eles repetem mais de 100 vezes que a aliança de Deus é irrevogável. O facto de o repetirem mais de 100 vezes mostra que não acreditam nisso. Quando temos de insistir numa coisa tantas vezes é porque alguma coisa está mal.”
Trata-se, diz, de uma teologia afectada por circunstâncias externas. “Eu compreendo que o Ocidente queira reparar a história má que tem com os judeus, mas não se pode usar a Bíblia como um instrumento para assuntos políticos ou históricos. Se formos à Bíblia, essa frase está lá, mas há muitas outras que dizem o contrário.”
“É um tipo de teologia ocidental, baseada em eventos históricos e políticos e complexos psicológicos. A teologia, para ser verdadeira, tem de ser livre, como o Espírito Santo, de pressões. Para mim, isto não é verdadeira teologia”, conclui.