05 fev, 2016 - 15:16 • Filipe d'Avillez
O encontro entre o Papa Francisco e o patriarca Kirill, de Moscovo, é uma oportunidade histórica de aprofundar o diálogo ecuménico e doutrinal entre Roma e o mundo ortodoxo.
Para o arquimandrita Phillip Jagnisz, representante do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla na cidade para o norte de Portugal e Galiza, trata-se de um importante gesto de boa-fé entre duas igrejas que tradicionalmente não têm tido boas relações.
Qual a real importância deste encontro?
O Patriarca Kiril já se encontrou com vários papas, embora antes de ter assumido o Patriarcado de Moscovo e toda a Rússia. Mas já se encontrou com vários e tem contactos com o Ocidente e com a Igreja Católica. Mas esta é a primeira vez em 1000 anos que um Patriarca de Moscovo, em exercício, se encontra com o Papa, por isso é bastante importante.
Temos noção disso, mesmo pelos esforços de Roma, nos últimos quatro ou cinco anos, de tentar resolver diferentes questões e chegar a acordos que tenham tornado este encontro possível.
O assunto oficial será a perseguição aos cristãos no Médio Oriente, mas concorda que há uma dimensão ecuménica para este encontro?
Sim, há uma dimensão ecuménica e, com base nas declarações do site oficial do Patriarcado de Moscovo, ambas as igrejas reconhecem que este é um gesto de boa-fé. Da nossa parte, no Patriarcado Ecuménico, estamos em contacto com Roma desde o pontificado de Paulo VI e, novamente como sinal de boa-fé, temos ultrapassado divisões antigas e anulámos as excomunhões de 1054. Mas esse não tem sido o caso com o Patriarcado de Moscovo, por isso vejo isto como um sinal positivo de reaproximação. Não penso que se discutam temas teológicos no encontro, mas é um sinal positivo da parte de ambas as igrejas.
Como disse, a Igreja Ortodoxa Russa tem sido vista como um obstáculo nas relações entre católicos e ortodoxos, mas parece que estamos perante uma mudança de atitude. Tudo isto acontece meses antes da realização de um importante conselho dos líderes das diferentes igrejas ortodoxas. Este encontro pode abrir a porta para um maior compromisso entre católicos e ortodoxos em termos doutrinais e teológicos?
Penso que sim. O grande conselho que está marcado para Junho lidará com muitos temas e um deles é precisamente a perseguição dos cristãos no Médio Oriente, especialmente na Síria, e esta é uma preocupação não só para a Igreja Ortodoxa mas também para a Católica e, creio, para todos os cristãos que seguem as Escrituras.
No que diz respeito às questões teológicas que digam respeito a ambas as igrejas, não sei se o conselho fará referência directa a uma denominação específica, mas da parte do Patriarcado Ecuménico e de muitas das Igrejas Ortodoxas autocéfalas, há algum tempo que dizem que as igrejas ortodoxas e católicas são igrejas irmãs.