16 fev, 2016 - 23:21 • Aura Miguel , no México, e Filipe d’Avillez
O México colocou a sua maior riqueza aos pés do Papa Francisco esta terça-feira à noite. Os jovens do país encheram o estádio de Morelia para ouvir o Papa dizer-lhes que eles são o tesouro daquele país. “Há que transformá-la em esperança”, disse.
Neste âmbito, o maior perigo para o país será os seus jovens sentirem que não têm valor. Uma ameaça real, diz Francisco.
“Não se pode viver a esperança, pressentir o amanhã, se antes a pessoa não consegue estimar-se, se não consegue sentir que a sua vida, as suas mãos, a sua história têm valor. A esperança nasce, quando se pode experimentar que nem tudo está perdido. Não estou perdido, valho... e muito!”, disse o Papa.
Francisco passou então a elencar as principais ameaças que os jovens enfrentam nessa luta pelo reconhecimento do seu próprio valor. “A principal ameaça à esperança são os discursos que te desvalorizam, fazem sentir-te um ser de segunda classe. A principal ameaça à esperança é quando sentes que não interessas a ninguém, ou que te puseram de lado. A principal ameaça à esperança é quando sentes que tanto vale estares como não estares. Isto mata, isto aniquila-nos e é porta de entrada para tanta amargura.”
“A principal ameaça à esperança é fazer-te crer que começas a valer qualquer coisa, quando te mascaras com roupas de marca, do último grito da moda, ou que ganhas prestígio, te tornas importante por teres dinheiro, mas, no fundo do teu coração, não crês ser digno de carinho, digno de amor. A principal ameaça é quando uma pessoa sente que tudo aquilo de que precisa é ter dinheiro para comprar tudo, inclusive o carinho dos outros. A principal ameaça é crer que, pelo facto de ter um grande carro, és feliz.”
Perante estas ameaças o Santo Padre, que à entrada do estádio foi acolhido aos gritos de “esta é a juventude do Papa”, insiste: “Vós sois a riqueza do México, vós sois a riqueza da Igreja. Compreendo que muitas vezes se torna difícil sentir-se tal riqueza, quando estamos continuamente sujeitos à perda de amigos ou familiares nas mãos do narcotráfico, das drogas, de organizações criminosas que semeiam o terror.”
Durante esta viagem ao México o Papa já falou várias vezes do problema da violência e do narcotráfico, uma autêntica praga social que torna o país um dos mais violentos do continente americano. Neste discurso aos jovens o tema esteve mais uma vez na lista de prioridades de Francisco.
“Não é verdade que a única forma possível de viver, de poder ser jovem seja deixar a vida nas mãos do narcotráfico ou de todos aqueles que a única coisa que fazem é semear destruição e morte. É graças a Ele que podemos dizer que não é verdade que a única forma que os jovens têm de viver aqui seja na pobreza e na marginalização: marginalização de oportunidades, marginalização de espaços, marginalização da formação e educação, marginalização da esperança. Jesus Cristo é Aquele que desmente todas as tentativas de vos tornar inúteis, ou meros mercenários de ambições alheias.”
Ao longo do seu discurso, muitas vezes interrompido por aplausos e gritos de apoio, Francisco nunca deixou de encorajar os jovens. “Queridos amigos, em nome de Jesus peço que não vos deixeis excluir, não vos deixeis desvalorizar, não vos deixeis tratar como mercadoria. Claro, é provável que não tenhais à porta o último modelo de carro, que não tenhais a carteira cheia de dinheiro, mas tereis algo que ninguém vos poderá jamais roubar: a experiência de vos sentirdes amados, abraçados e acompanhados; a experiência de vos sentirdes família, de vos sentirdes comunidade.”
O Papa termina nesta nota o quarto dia da sua visita ao México. Para quarta-feira fica reservada a visita a Cidada Juárez, conhecido como um centro de narcotráfico e que já foi uma das cidades mais perigosas do mundo. À noite Francisco regressa a Roma, onde chega na quinta-feira por volta da hora do almoço.
A Renascença no México com o apoio da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa