17 fev, 2016 - 20:29 • Aura Miguel , no México, e Filipe d’Avillez
O Papa criticou fortemente a exploração das pessoas no mundo do trabalho, esta quarta-feira, num encontro com representantes de empregadores e de funcionários. No último dia da sua visita ao México, Francisco disse que quem promove novas formas de escravatura não pode fugir à justiça divina.
“Deus pedirá contas aos esclavagistas dos nossos dias, e nós devemos fazer todo o possível para que estas situações não ocorram mais. O fluxo do capital não pode determinar o fluxo e a vida das pessoas”, declarou o Papa.
Francisco reconheceu que nem sempre os interesses de trabalhadores e entidades patronais coincidem, mas apelou a que trabalhem em conjunto para o futuro do México. “Hoje encontram-se aqui várias organizações de trabalhadores e representantes de câmaras e associações empresariais. À primeira vista, poderiam considerar-se antagonistas, mas une-os uma responsabilidade comum: procurar criar oportunidades de trabalho digno e verdadeiramente útil para a sociedade e sobretudo para os jovens desta terra.”
Defendeu que quando se parte para uma negociação "sempre se perde algo", mas no final "ganham todos".
“Um dos maiores flagelos a que estão expostos os vossos jovens é a falta de oportunidades de instrução e trabalho sustentável e rentável, que lhes permitam lançar-se na vida; isso gera em muitos casos situações de pobreza. E esta pobreza torna-se o terreno favorável para cair na espiral do narcotráfico e da violência. Um luxo que ninguém se pode conceder é deixar só e abandonado o presente e o futuro do México”, disse Francisco.
Reconhecendo que a sua proposta "não é fácil", o Papa sublinhou a sua importância. “Sei que não é fácil viver de acordo num mundo cada vez mais competitivo, mas é pior deixar que o mundo competitivo acabe por determinar o destino dos povos. O lucro e o capital não são um bem superior ao homem, mas estão ao serviço do bem comum. E, quando o bem comum é forçado a estar ao serviço do lucro e o único a ganhar é o capital, a isto chama-se exclusão.”
O Papa insurgiu-se, como já fez em diversas ocasiões, contra a mentalidade actual que “pretende a maior quantidade possível de lucro, a todo o custo e imediatamente. Não só provoca a perda da dimensão ética das empresas, mas esquece também que o melhor investimento que se pode fazer é investir no povo, nas pessoas, nas suas famílias.”
Defesa da Doutrina Social da Igreja
Durante o seu discurso, Francisco antecipou alguns dos argumentos que costumam ser usados por parte dos cépticos quanto às propostas da Igreja.
“Sucede, não raramente, que a Doutrina Social da Igreja veja as suas propostas colocadas em questão com estas palavras: ‘Estes pretendem que sejamos organizações de beneficência ou que transformemos as nossas empresas em instituições filantrópicas’”, disse. “Mas a única pretensão que tem a Doutrina Social da Igreja é velar pela integridade das pessoas e das estruturas sociais. Sempre que esta integridade, por várias razões, é ameaçada ou reduzida a bem de consumo, a Doutrina Social da Igreja há-de ser uma voz profética que nos ajudará a todos a não nos perdermos no mar sedutor da ambição”.
Este é um trabalho que leva tempo, mas dá sempre fruto, garante Francisco. “Esta atitude não só cria uma melhoria imediata, mas, a longo prazo, tornar-se-á uma cultura capaz de promover espaços dignos para todos. Esta cultura, nascida muitas vezes de tensões, vai gerando um novo estilo de relações, um novo tipo de nação.”
A Renascença no México com o apoio da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa