18 fev, 2016 - 08:00 • Aura Miguel, enviada ao México
Subiu lentamente e deteve-se perante uma enorme cruz sobre o Rio Bravo, na fronteira com os EUA. Ali, rezou em memória dos migrantes mortos e de tantos que sofreram e sofrem por causa desta fronteira. Colocou um ramo de flores e, de costas para o México, abençoou os norte americanos que acenavam com lenços e gritavam vivas, sob um imenso dispositivo de segurança da polícia dos EUA.
De um lado e do outro, quase se pode ver o rosto uns dos outros, separados por uma rede, colocada ao longo do rio. Do lado de cá, gente marcada pela dureza da vida que tenta a todo o custo atravessar a fronteira; do lado de lá, gente que vive no confortável " sonho americano". Do lado de cá, um quotidiano de pobreza, narcotráfico e trabalho escravo; do lado de lá o conforto da pacata vida americana, da segurança no trabalho e vida fácil.
Mas foi para o lado de cá a preferência de Francisco. Foi nesta "capital do crime organizado e da violência" que o Papa das periferias concentrou as atenções do mundo para clamar "basta com a morte e exploração!". Foi este o grande clímax da viagem de Francisco: o Papa que chegou ao México como "missionário da misericórdia e da paz", passou aqui das palavras aos actos. Porque "há sempre tempo de mudar, há sempre uma saída e uma oportunidade", como disse na sua última homilia, e "há sempre tempo de implorar a misericórdia do Pai". Palavras fortes de apelo à conversão para os do lado de cá e os do lado de lá da fronteira.