09 mar, 2016 - 22:03
A Igreja Católica angolana entende que a crise económica e financeira que Angola enfrenta não foi causada apenas pela queda do preço do petróleo, mas pela "falta de ética, má gestão do erário público e corrupção generalizada" no país.
A posição foi manifestada esta quarta-feira, numa nota pastoral divulgada no final da primeira assembleia ordinária da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), iniciada no dia 2, em Ndalatando, capital da província do Cuanza Norte.
Na nota, os bispos lamentam o agravamento preocupante da pobreza das populações e a paralisação paulatina dos agentes económicos devido às dificuldades na renovação de mercadorias por falta de poder aquisitivo.
Os bispos criticam igualmente os atrasos salariais, tanto no sector público como no privado, e a subida vertiginosa de preços de bens elementares.
Para os bispos, a crise económica e financeira "em que o país se encontra mergulhado" deve-se, igualmente, à "mentalidade de compadrio ao nepotismo, em acúmulo à discriminação derivada da partidarização crescente da função pública, que sacrifica competência e o mérito".
"Aumenta assustadoramente o fosso entre os cada vez mais pobres e os poucos que se apoderam das riquezas nacionais, muitas vezes adquiridas de forma desonesta e fraudulenta", realçaram ainda os prelados.
A CEAST lamentou também "a falta de critérios no uso dos fundos públicos, gastos exorbitantes, importação de coisas supérfluas, que não aproveitam as populações".
Nos últimos tempos - e de forma dramática - aumentou o índice de mortalidade de crianças e adultos, vítimas de doenças como o paludismo, diarreia e febre-amarela, é frisado na Nota Pastoral, que atribui este quadro "ao descuido da saúde pública e preventiva, à falta de saneamento básico, à falta de higiene pública e privada, à falta de água e acumulação de lixo".
"Assistimos a uma insensibilidade quase que crónica a tanto mal, à doença e à morte do próximo, e, em muitos hospitais, isto traduz-se no desvio de medicamentos para farmácias ou unidades de saúde privadas ou mercado paralelo onde são vendidos a preços insuportáveis para a maioria da população", referem os bispos.
De acordo com os bispos, em muitos hospitais para além da falta de medicamentos indispensáveis os doentes não recebem alimentação.
Sobre as estradas do país, os bispos disseram que muitas tornaram-se intransitáveis isolando populações e criando condições para o aumento de acidentes.
A seca no sul de Angola continua a ser preocupante, segundo os bispos, por se alastrar por um largo tempo e continuar a fazer vítimas, apelando ao empenho de todos na mobilização de ajudas alimentares e por parte de quem de direito uma definição de políticas concretas que ponham fim a estes males crónicos.
Os bispos observaram ainda a continuidade da partidarização dos meios de comunicação social, "que por direito devem estar ao serviço de todos", e o que consideraram ser a "grave a prevalência de espectáculos de conteúdo moral, científico e cultural, duvidoso penalizando a cultura das populações angolanas".
Lamentaram também que "análises lúcidas, críticas bem fundadas e construtivas destinadas à construção do bem comum sejam muitas vezes interpretadas como ataque às instituições de legítima governação e à ordem pública em geral".