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Exortação apostólica. Das limitações do casal ao respeito pelos sogros

08 abr, 2016 - 11:00 • Filipe d'Avillez

Dois dos capítulos de “A Alegria do Amor” são uma autêntica catequese sobre o amor conjugal em que Francisco coloca a fasquia alta sem descurar a fragilidade pessoal dos esposos.

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De todas as passagens do Evangelho, a que mais é usada para falar de amor é a de São Paulo na primeira epístola aos coríntios (13, 4-7). É natural, por isso, que o Papa tenha escolhido começar aquilo que apenas se pode descrever como uma catequese sobre o amor no matrimónio com um longa análise deste texto, que ocupa quase vinte páginas da exortação apostólica “A Alegria do Amor”, divulgada esta sexta-feira.

Nesta passagem, São Paulo descreve aquilo que é o ideal do amor, como o que existe entre Jesus e a Igreja, e é a esse ideal que o cristão deve aspirar no casamento, explica Francisco, mas sem nunca esquecer as limitações inerentes à condição humana. “Não se deve atirar para cima de duas pessoas limitadas o peso tremendo de ter que reproduzir perfeitamente a união que existe entre Cristo e a sua Igreja, porque o matrimónio como sinal implica ‘um processo dinâmico, que avança gradualmente com a progressiva integração dos dons de Deus’”.

Desta feita, o Papa esclarece que inevitavelmente o casamento tem altos e baixos. “A alegria matrimonial, que se pode viver mesmo no meio do sofrimento, implica aceitar que o matrimónio é uma combinação necessária de alegrias e fadigas, de tensões e repouso, de sofrimentos e libertações, de satisfações e buscas, de aborrecimentos e prazeres, sempre no caminho da amizade que impele os esposos a cuidarem um do outro”.

Francisco rejeita ainda a ideia de que existem famílias perfeitas “que a publicidade falaciosa e consumista nos propõe. Nelas não passam os anos, não existe a doença, a tribulação nem a morte”.

Estes factores, como qualquer crise que possa afectar a família, podem assustar, mas, se bem vividas, podem torná-la mais forte, diz o Papa.

Famílias numerosas...

A catequese do Papa sobre o amor ocupa o quarto e o quinto capítulos, precisamente no centro da exortação apostólica pós-sinodal, e nela Francisco fala também da "alegria para a Igreja" que são as famílias numerosas, sem contudo negar a legitimidade dos casais em usar métodos naturais de planeamento familiar para regular o número de filhos que sentem que podem ter.

“As famílias numerosas são uma alegria para a Igreja. Nelas, o amor manifesta a sua fecundidade generosa. Isto não implica esquecer uma sã advertência de São João Paulo II, quando explicava que a paternidade responsável não é ‘procriação ilimitada ou falta de consciência acerca daquilo que é necessário para o crescimento dos filhos, mas é, antes, a faculdade que os cônjuges têm de usar a sua liberdade inviolável de modo sábio e responsável, tendo em consideração tanto as realidades sociais e demográficas, como a sua própria situação e os seus legítimos desejos’”.

A exortação apostólica critica a tendência de algumas famílias cristãs viverem de forma que se colocam à parte do resto da sociedade, “pela linguagem que usam, a maneira de dizer as coisas, o estilo do seu tratamento, a repetição constante de dois ou três assuntos, são vistas como distantes, separadas da sociedade, e até os próprios parentes se sentem desprezados ou julgados por elas”, contrastando isto com o caso de cristãos que “pintam o cinzento do espaço público, colorindo-o de fraternidade, sensibilidade social, defesa das pessoas frágeis, fé luminosa, esperança activa. A sua fecundidade alarga-se, traduzindo-se em mil e uma maneiras de tornar o amor de Deus presente na sociedade”.

Francisco faz ainda o elogio do conceito de família alargada, apontando como exemplo a realidade em algumas zonas de África em que o casamento ainda é visto muito como a união de duas famílias e não apenas de duas pessoas. A família alargada pode servir para colmatar muitas das situações precárias que existem, como de pais solteiros, idosos dependentes ou a existência de parentes com deficiência.

... e sogros

E porque na esmagadora maioria dos casamentos existem sogros, o Papa reserva ainda umas palavras para eles. “A união conjugal exige que se respeite as suas tradições e costumes, se procure compreender a sua linguagem, evitar maledicências, cuidar deles e integrá-los de alguma forma no próprio coração, embora se deva preservar a legítima autonomia e a intimidade do casal”.

O “Amoris Laetitia” poderá muito bem ser o primeiro documento do magistério da Igreja a proibir expressamente que se diga mal da sogra.

A exortação apostólica “A Alegria do Amor” tem mais de 250 páginas e divide-se em nove capítulos que pretendem abarcar os principais desafios que se colocam à família nos tempos modernos, incluindo a espiritualidade conjugal e a importância da educação dos filhos. A questão do acesso aos sacramentos por parte de divorciados recasados é abordada no capítulo oitavo. Embora tenha data de 19 de Março, dia de São José, o texto só foi tornado público esta sexta-feira, dia 8 de Abril.

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