08 abr, 2016 - 11:00 • Filipe d'Avillez
A Santa Sé divulgou esta sexta-feira o muito esperado documento que vem colocar um ponto final no processo sinodal sobre a família, que começou em 2014. Na exortação apostólica “Amoris Laetitia” (“A Alegria do Amor”), o Papa mostra maior abertura em algumas matérias, como o acesso à comunhão dos divorciados recasados.
Um inquérito geral que obteve centenas de milhares de respostas e dois sínodos mais tarde, Francisco publicou finalmente as suas próprias conclusões, respondendo assim ao apelo que lhe tinha sido dirigido nesse sentido pelos bispos que participaram no sínodo de Outubro de 2015.
O texto, que ocupa mais de 250 páginas, está dividido em nove capítulos, que abordam tudo desde a educação dos filhos aos desafios particulares que as famílias enfrentam hoje e, claro, as questões mais polémicas como o acesso das pessoas em situação irregular aos sacramentos. Pelo meio Francisco deixa dois capítulos com uma profunda e catequética análise do amor conjugal.
De todos estes capítulos aquele que pode vir a dominar as atenções é o dedicado ao tema das famílias irregulares. Embora nunca diga claramente que algumas pessoas nesta situação podem aceder aos sacramentos, Francisco parece abrir caminho nesse sentido, propondo aos casais um caminho de "discernimento" e dizendo, preto no branco, que nem todas as pessoas em situações irregulares estão desprovidos de graça ou se encontram em pecado mortal.
Uma das frases que poderá ajudar a ler este capítulo encontra-se logo no arranque do primeiro, com Francisco a explicar que “nem todas as discussões doutrinais, morais ou pastorais devem ser resolvidas através de intervenções magisteriais. Naturalmente, na Igreja, é necessária uma unidade de doutrina e práxis, mas isto não impede que existam maneiras diferentes de interpretar alguns aspectos da doutrina ou algumas consequências que decorrem dela”, e ainda, “em cada país ou região, é possível buscar soluções mais inculturadas, atentas às tradições e aos desafios locais”.
Infelizmente, com toda a discussão que esse capítulo oitavo vai gerar é natural que passe mais despercebido o texto sobre a importância da educação dos filhos, que tem nitidamente um cunho mais pessoal do Papa, sendo, por exemplo, o que menos cita os relatórios do sínodo.
Tendo em conta a polémica que gerou durante os debates sinodais, é natural que alguns fiquem surpreendidos com a quase total ausência de referências à homossexualidade, que merece apenas dois parágrafos que em nada alteram o ensinamento tradicional da Igreja a este respeito, sublinhando a dignidade das pessoas homossexuais mas rejeitando qualquer semelhança entre uniões homossexuais e casamentos.
A exortação apostólica é publicada com data de 19 de Março, dia de São José, mas só foi divulgada publicamente esta quinta-feira, dia 8 de Abril.