13 jun, 2016 - 10:02
O Papa denunciou esta segunda-feira a ditadura das armas e a facilidade com que passam fronteiras alfandegárias, por oposição aos obstáculos que se colocam à circulação de alimentos.
“Enquanto as ajudas e os planos de desenvolvimento se vêem obstaculizados por intrincadas e incompreensíveis decisões políticas, por tendenciosas visões ideológicas ou por insuperáveis barreiras alfandegárias, as armas não. Não importa a sua origem, circulam com uma liberdade jactanciosa e quase absoluta em muitas partes do mundo”, começou por afirmar.
“E assim nutrem-se as guerras, não as pessoas. Nalguns casos, usa-se a própria fome como arma de guerra”, apontou ainda Francisco, na abertura da sessão anual de 2016 do Conselho Executivo do Programa Alimentar Mundial (PAM).
Esta segunda-feira de manhã em Roma, Francisco lamentou que, apesar de todos termos “consciência disto”, continuemos a deixar que essa “consciência se anestesie, tornando-se insensível”.
“E as vítimas multiplicam-se, porque o número das pessoas que morrem de fome e depauperação soma-se ao dos combatentes que morrem no campo de batalha e a tantos civis mortos nos conflitos e nos atentados”, sublinhou.
“Assim, a força transforma-se no nosso único modo de agir e o poder no objectivo peremptório a alcançar. As populações mais frágeis não só padecem com os conflitos bélicos, mas ainda vêem travado todo o tipo de ajuda”, concluiu.
“É necessário ‘desnaturalizar” a miséria”
Francisco lamentou ainda o resultado do “excesso de informação de que dispomos”, que “gera gradualmente a habituação à miséria – ou seja, pouco a pouco tornamo-nos imunes às tragédias dos outros, considerando-as como qualquer coisa de ‘natural’; em nós gera-se a «naturalização» da miséria”.
“São tantas as imagens que nos invadem onde vemos o sofrimento, mas não o tocamos; ouvimos o pranto, mas não o consolamos; vemos a sede, mas não a saciamos. Assim, muitas vidas entram a fazer parte duma notícia que, em pouco tempo, acabará substituída por outra”.
“E, enquanto mudam as notícias, o sofrimento, a fome e a sede não mudam, permanecem. É necessário ‘desnaturalizar’ a miséria, deixando de considerá-la como um dado entre muitos outros da realidade”, apelou.
Francisco falou na sede do Programa Mundial de Alimentação (PAM), das Nações Unidas (ONU), em Roma, onde advertiu: “a credibilidade duma instituição não se baseia nas suas declarações, mas nas acções realizadas pelos seus membros”.