28 jun, 2016 - 14:56
Veja também:
O patriarca de Lisboa acredita que a Europa não deve desistir do Reino Unido. D. Manuel Clemente afirma à Renascença que se vai pagar "muito caro" o facto de a primeira discussão do resultado do referendo que ditou a saída do Reino Unido da União Europeia ter deixado de fora vários Estados-membros, incluindo Portugal.
D. Manuel Clemente lamenta que a primeira reunião pós-Brexit tenha incluído apenas os seis membros fundadores da União Europeia, tanto do ponto de vista “cultural” como económico.
“Se for [uma decisão] económica ou, pior, economicista, acontece o que está a acontecer. Mas isso, depois, paga-se muito caro, e não com lucros”, afirma.
O patriarca sublinha que o lugar do Reino Unido deve ficar em aberto, à espera. “Temos de entrar todos no projecto europeu, não é só a Grã-Bretanha, que, por agora, quis ficar de fora. Mas o futuro está em aberto, não vamos desistir de ninguém, vamo-nos encontrar mais à frente", afirma à Renascença.
“Se me perguntassem pessoalmente, preferia que essa procura fosse feita com o Reino Unido mais dentro. Ele ficou de fora, mas o lugar está cá, à espera”, diz D. Manuel Clemente, à margem do lançamento do livro “Portugal e a Crise Global” de Adriano Moreira, esta terça-feira à tarde no ISCSP em Lisboa.
Adriano Moreira considera que a saída do Reino Unido da União Europeia pode constituir um risco à paz na Europa. Em declarações à Renascença, o especialista em relações internacionais lembra que “Inglaterra é o maior poder militar da Europa” e que o resultado do referendo “põe em perigo a coroa britânica, por causa dos movimentos separatistas”.
“A maior parte das bases da NATO estão na Escócia e, portanto, esse será um problema que vai exigir grande ponderação, se o tal movimento separatista vier a concretizar-se", acrescenta.
O professor catedrático recorreu a uma frase conhecida sua, "o imprevisto está à espera de uma oportunidade”, para definir a encruzilhada provocada pelo resultado do referendo britânico.
Adriano Moreira mostra-se também crítico sobre a forma como a Europa deixou de fora países como Portugal na discussão sobre o resultado do referendo.
"Reuniram-se os assumidos representantes seis da Europa. Eu julgo que a Europa não tem curadores. Infelizmente, o que tem neste momento é herdeiros sem benefício de inventário", afirma, acrescentando que deve haver igualdade de dignidade entre os Estados europeus quando as decisões futuras estão em causa.
"A voz de Portugal tem de estar presente em todo o processo decisório e, portanto, o seu lugar principal chama-se Conselho e, como aconteceu algumas vezes na história de Portugal, o poder da voz deve ser mais importante que a voz do poder", remata.