02 set, 2016 - 15:51 • Eunice Lourenço com Aura Miguel
Marcilio e Fernanda tinham casado há menos de um mês quando, em Outubro de 2008, o primeiro, engenheiro, foi internado com fortes dores de cabeça. Diagnóstico: oito tumores cerebrais. Um dos abcessos cresceu tanto que lhe causou hidrocefalia e o lado esquerdo começou a ficar paralisado.
Passados oito anos, estão em Roma para a canonização de Madre Teresa de Calcutá, marcada para domingo. E com eles estão os dois filhos que consideram também parte do milagre que foi reconhecido pelo Papa no fim de 2015 e que era a peça que faltava para que a Igreja reconhecesse Madre Teresa como santa.
A doença de Marcilio Haddad Andrino começou a manifestar-se no princípio de 2008. Primeiro, eram só umas tonturas para as quais não conseguia ter diagnóstico. Esse só chegou em Outubro, quando foi internado depois de uma convulsão. O médico disse, então, que tinha uma infecção que lhe estava a causar vários abcessos cerebrais e começou a ser tratado com antibióticos.
Os tratamentos, contudo, pareciam não ter efeito e o seu corpo foi paralisando. Fernanda pegava, então, na pagela de Madre Teresa e repetia a oração que lá estava. “Tinha uma relíquia da madre e colocava-a na cabeça do Marcilio nos pontos em que o médico tinha apontado os abcessos. Além de fazer a oração que tinha na relíquia, eu também pedia, dizia palavras que brotavam do meu coração”, conta Fernanda Andrino, num depoimento gravado recentemente em Rimini, onde participaram num encontro do movimento Comunhão e Libertação.
A situação do marido piorou a 9 de Dezembro. “A única coisa que consegui dizer foi chamar a Fernanda e pedir-lhe para rezar e para pedir às amigas da mãe para que rezassem por mim porque a minha dor de cabeça estava muito forte, não estavam aguentando”, conta Marcilio, que nessa noite foi levado para os cuidados intensivos. Seria operado no dia seguinte. Mas não foi. Acordou bem e os exames revelaram que os tumores tinham diminuído e o líquido no cérebro tinha desaparecido. Três dias depois, nos novos exames, só restavam as cicatrizes dos tumores.
O médico, conta Fernanda, ficou surpreendido e garantiu que não podiam ter sido os antibióticos a ter aquele efeito de um dia para o outro. Ainda assim, o pai de Marcilio insistiu, perguntando o que podia explicar a cura. “Alguém lá em cima gosta muito de vocês”, respondeu o médico.
O milagre, contudo, ainda não estava completo. Devido aos medicamentos que tinha tomado e por ter um transplante renal desde os 18 anos, Marcilio tinham 1% de hipóteses de ter filhos. No entanto, menos de um ano depois de sair do hospital tiveram mais uma notícia feliz: Fernanda estava grávida.
“Aí nós vimos a extensão do milagre”, contou Marcilio. O milagre fortaleceu a fé, levando-o a saborear melhor a vida. Mas também a conhecer melhor Madre Teresa de Calcutá, que hoje considera que faz parte da sua vida e da sua família.
O que aconteceu com Marcílio e Fernanda foi analisado e reconhecido como milagre no fim do ano passado. Era a peça que faltava para a canonização e Madre Teresa, já beatificada em 2003.
“Eu e a Fernanda somos pessoas comuns no meio do povo de Deus. Deus não escolhe, tal como Madre Teresa, que olhava para as pessoas sem distinção. Espero que a canonização de Madre Teresa mostre a todos os povos a ter misericórdia, a ter compaixão pelo próximo e que possamos partilhar o que temos”, diz Marcilio Haddad Andrino no depoimento gravado em Rimini.
“Sinto uma gratidão enorme quando vejo o Marcilio, quando vejo os nossos filhos. Tenho uma gratidão enorme a Deus e à Madre Teresa. Cada vez que olho para eles fortaleço ainda mais a minha fé porque tenho a convicção que toda a oração é atendida, que o amor de Deus nos acolheu e continua a acolher-nos", afirma Fernanda.
“No dia da canonização e não só no dia, como em todas as minhas oração não me sinto no direito de pedir mais nada a Deus, só de agradecer.”