08 set, 2016 - 18:29 • Aura Miguel
O "Estudo crítico das Memórias da Irmã Lúcia" revela a “humanidade” e um lado menos conhecido da vidente de Fátima, através de uma narrativa “fascinante”, diz à Renascença a investigadora Cristina Sobral.
À margem do Congresso Mariológico Mariano Internacional, que decorre em Fátima, a professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa falou sobre esta edição que tem por bases escritos originais da Irmã Lúcia.
Cristina Sobral refere que Lúcia, apesar de ser pouco letrada, tinha uma “cabeça perfeitamente clara” e uma “memória espantosa”.
“Podíamos pensar e esperar que ela não passava de uma rapariga, coitadinha, analfabeta, que viveu a vida toda num meio fechadíssimo, pois nunca tinha saído dali, com um universo muito especial. Ela própria diz que não sabe bem quando as coisas aconteceram, sabe que foi ‘no tempo tal’, ‘na colheita tal’. Portanto, poderíamos esperar dela um texto desconexo… Nada disso.”
Para a investigadora, a narrativa dos escritos da vidente de Fátima, que morreu em Fevereiro de 2015, torna-se “fascinante”.
“Acabamos mesmo por ser apanhados pela narrativa, pelos medos que ela tinha, aquilo que está nas entrelinhas e que se percebe, as dificuldades da relação com a mãe, as suas emoções e aquelas pequenas coisas onde nós conseguimos ver a humanidade da Lúcia, torna-se fascinante”, descreve Cristina Sobral.
Os escritos originais da irmã Lúcia acaba por desmontar a ideia pré-concebida de que uma pessoa inteligente é alguém com muitos estudos, sublinha.
“Há tantos com muitos doutoramentos que… Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Evidentemente, ela não é uma pessoa para fazer especulação teórica, mas isso não significa que não seja uma pessoa inteligente e com raciocínio perfeitamente claro, não há dúvida nenhuma”, concluiu a catedrática.
O "Estudo crítico das Memórias da Irmã Lúcia" reúne seis escritos deixados pela irmã Lúcia. Entre as novidades, está a publicação inédita do texto de um questionário de 315 perguntas enviadas pelo Santuário de Fátima à religiosa e a divulgação da chamada quinta memória numa versão que não estava publicada.