22 dez, 2016 - 00:02 • Raquel Abecasis (Renascença) e Tiago Luz Pedro (Público)
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Como olha hoje para o país? 2016 foi o ano em que recuperámos a nossa auto-estima ou isso é apenas a espuma dos dias?
Todo o esforço que se pode fazer na coesão da nossa sociedade é uma grande vantagem para o país. E, nesse sentido, há que reconhecer que este ano trouxe elementos muito significativos e um certo tom de esperança que voltou ao espaço público, mesmo com todas as preocupações que se podem colocar nos vários âmbitos do crescimento real do país, da economia, do mundo da ciência, do emprego... Mesmo contando todas as dificuldades que se podem e devem colocar, a verdade é que tudo o que contribua para um maior envolvimento de todos e uma aproximação à situação concreta das pessoas só pode ser muito celebrado.
O Presidente da República tem sido importante nesses consensos?
Há que reconhecer o trabalho que o Presidente da República tem feito no entendimento da sua função como um instrumento desse reforço de aproximação entre as partes. E queria destacar também a atenção que ele tem dado aos sectores mais frágeis da nossa sociedade. Trazer para a ribalta, mesmo que seja de uma forma simbólica, o problema da habitação, os bairros sociais, o desemprego dos jovens, os sem-abrigo, trazer isso para a centralidade do espaço público e mediático, eu penso que nos ajuda a todos.
Aquilo que Marcelo Rebelo de Sousa e mesmo António Guterres trazem de bagagem cultural, e até de experiência de Igreja, está a mudar alguma coisa?
Para a Igreja, é um desafio olhar para estas e outras figuras, de não desistir, de ser também uma escola do compromisso político. E ser um lugar de acompanhamento próximo da realidade, sobretudo no trabalho com os mais jovens, no sentido de gerar uma sensibilidade humana para que depois, na diversidade do espectro político, um determinado ADN de valores esteja presente. Os nomes que citou, e de tantos outros que na política têm essa proveniência do espaço católico, é uma influência que qualifica a nossa democracia. E isso constitui, até mais do que um motivo de orgulho da Igreja, o desafio muito grande de abraçar uma tarefa de formação, de transmissão de valores, de apaixonar as novas gerações pela causa pública e pela nobreza da vida política. Esse é um trabalho que a Igreja tem de fazer com maior intensidade. No interior do catolicismo, depois dos anos de 1960 e 70 em que o envolvimento político e no mundo social era uma bandeira muito expressiva do viver cristão, passámos para um tempo em que a fé tem sido uma procura mais solitária, mais privada, mais individual. É necessário chegar a um equilíbrio, porque o cristianismo ficará sempre incompleto sem essa dimensão social.