22 dez, 2016 - 00:02 • Raquel Abecasis (Renascença) e Tiago Luz Pedro (Público)
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Esta entrevista foi feita na segunda-feira, já depois da intervenção do Presidente da República para tentar travar o fim do Teatro da Cornucópia mas antes de o encenador e fundador da companhia, Luís Miguel Cintra, ter dado a decisão como irreversível. Para José Tolentino Mendonça, é o futuro do país que também está em jogo.
Sendo um homem da cultura, como vê o fecho do Teatro da Cornucópia?
Com a maior preocupação. Há, em todas as geografias, o reconhecimento do trabalho de grandes criadores. Vimos, mesmo em Portugal, o reconhecimento no último tempo de vida do Manoel de Oliveira. E percebemos como era importante para o país que ele continuasse a filmar…
E faz sentido que o erário público continue a pagar a pessoas assim...
Não é o erário público continuar a pagar a pessoas assim. É o país, na sua estratégia para o futuro, perceber que as novas gerações precisam de pessoas assim, de criadores assim. O que seria do nosso país se os nossos jovens não pudessem ver os clássicos, as grandes peças do teatro grego, serem representados de uma forma contemporânea e ficassem apenas entregues ao espectáculo televisivo actual?
Tem esperança de que isto não seja já o fim?
Tenho um desejo, mais do que uma esperança. Por vezes, o espaço público fica envenenado com muitas mensagens contraditórias. E é preciso, neste caso, aquele bom senso de que o Presidente da República tão bem falou, de pensar numa excepção que não beneficia apenas a Cornucópia mas todos os que ganham com aquele trabalho. Desde os outros actores e companhias, que têm um referencial de qualidade muito importante, até às gerações de espectadores que tiveram na Cornucópia uma escola de formação do seu olhar e do seu pensamento.
A Cornucópia foi para si uma escola?
Tem sido. E tenho uma dívida muito grande de gratidão por tudo aquilo que a Cornucópia me tem trazido.