06 fev, 2017 - 19:10
Os bispos das Filipinas voltaram a criticar duramente o Presidente do país pelos abusos dos direitos humanos na sua alegada guerra contra o tráfico de droga.
Duterte, que durante o seu mandato como autarca de Manila era conhecido como “o castigador”, foi eleito em grande parte devido às suas promessas de declarar guerra ao mundo do crime e do tráfego, mas existem suspeitas de que o está a fazer às margens da lei.
O Presidente defende uma política de “atirar a matar” sobre qualquer suspeito de ligação à droga, caso resista à detenção. Desde que tomou posse há registo de cerca de 7.200 assassinatos de alegados criminosos, com muitos corpos a serem encontrados de mãos atadas em locais abandonados.
Duterte não disfarça o seu desprezo pelos direitos humanos. Em Setembro disse abertamente que “Hitler massacrou três milhões de judeus. Agora, há aqui três milhões de viciados. Gostaria de matá-los a todos”.
Este domingo, nas missas em todo o país, foi lida uma declaração da Conferência Episcopal das Filipinas, criticando o “reino de terror” causado pelas políticas do Presidente.
Igualmente grave, dizem os bispos, é o facto de muitos católicos aceitarem este cenário ou aprovarem. “Uma causa de preocupação ainda maior é a indiferença de muitos para este mal. É considerado normal, ou, pior ainda, algo que (de acordo com eles) precisa de ser feito”, referem os bispos na nota pastoral.
Embora não se refiram directamente a Duterte, os bispos apelam aos “políticos eleitos para servirem o bem comum das pessoas e não os seus próprios interesses” e criticam a corrupção policial e judicial.
Esta não é a primeira vez que os bispos tomam uma posição de força contra Duterte. Em Agosto de 2016, o arcebispo Socrates Villegas, da diocese de Lingayen-Dagupan e presidente da Conferência Episcopal, desafiou directamente o Presidente.
“Chegámos ao ponto em que já não me interessa o que me pode acontecer. Estou pronto a morrer. Uma parte de mim já morreu centenas de vezes, em cada uma das mortes a que assisti nestas últimas semanas. Que é mais uma morte para mim?... A barbárie não terá a última palavra. A razão prevalecerá. A humanidade vencerá”, afirmou Villegas.
"Eu vou para o inferno"
O Governo reagiu à nota pastoral dos bispos, dizendo que estes estão “desligados da realidade” do combate à droga. O porta-voz de Duterte, Ernesto Abella, afirmou que, em vez de “dramatizar” sobre um alegado “reino de terror”, os bispos devem colaborar para o “reino de paz” que a maior parte da população agora sente.
A esmagadora maioria dos filipinos são cristãos, com 80% a professar o catolicismo, e a Igreja tem bastante influência social, mas esse facto não parece estar a afectar Duterte. Num discurso no domingo à noite, o Presidente mostrou não estar preocupado com as censuras da hierarquia.
Dirigindo-se a quem o ouvia, o Presidente disse: “Vocês católicos, se acreditam nos vossos padres e bispos, fiquem com eles. Se querem ir para o Céu, vão ter com eles. Mas se querem acabar com a droga… Eu vou para o inferno, venham juntar-se a mim”.