09 mar, 2017 - 16:28 • Ecclesia
O Papa afirmou numa entrevista ao semanário alemão "Die Zeit" que o celibato “opcional” para os padres católicos “não é uma solução” para a crise de vocações, mas admitiu valorizar o papel dos homens casados, neste campo.
Francisco referia-se em particular à proposta de ordenar os chamados "viri probati" (“homens testados” – expressão que designa homens de confiança casados, de comprovada fé e virtude).
“Teríamos de considerar que tarefas poderiam desempenhar, por exemplo nas comunidades isoladas”, disse, numa entrevista divulgada esta quinta-feira.
Actualmente, a Igreja Católica de rito latino admite homens casados ao primeiro grau do sacramento da Ordem, ou seja, o diaconado permanente, mas não ao sacerdócio ou ao episcopado, que são os segundos e terceiros graus, respectivamente.
O Concílio Vaticano II (1962-1965) restaurou o diaconado permanente, a que podem aceder homens casados (depois de terem completado 35 anos de idade e com o consentimento das mulheres). O diaconado exercido por candidatos ao sacerdócio só é concedido a homens solteiros.
Na entrevista o Papa admite que a quebra do número de candidatos ao sacerdócio é um “enorme problema” para a Igreja Católica e defende que é necessário “trabalhar com os jovens que procuram orientação”, tema que vai estar no centro do próximo Sínodo dos Bispos, em 2018.
“Muitas paróquias estão nas mãos de mulheres dedicadas que nos domingos conduzem as orações. É um problema a falta de vocações. É um problema que a Igreja deve resolver”, assinalou.
O pontífice referiu que onde não há sacerdotes falta a Eucaristia e "uma Igreja sem Eucaristia não tem força".
Francisco observou que, nos países ocidentais, o problema é agravado pela baixa taxa de natalidade, porque “se não há crianças, não haverá sacerdotes".
O Papa lamenta ainda que alguns jovens não sejam sacerdotes “por vocação”, o que tem trazido problemas à Igreja.
A entrevista abordou depois a comissão de estudo sobre a história do diaconado feminino, explicando que a decisão surge como resposta à questão sobre se essas mulheres foram “ordenadas ou não”.
“Trata-se de explorar o tema, não de abrir uma porta. O tempo dirá o que a comissão vai apurar”, precisou.
O celibato é obrigatório para os sacerdotes na Igreja Católica de rito latino; em várias Igrejas orientais em comunhão com Roma podem ser ordenados homens casados, mas não é consentido casar depois da ordenação. Existem algumas excepções na Igreja de rito latino para homens que exerciam o ministério em igrejas anglicanas, por exemplo, mas que entram em comunhão com Roma sendo ordenados padres católicos e mantendo, naturalmente, os seus casamentos.
No Sínodo dos Bispos de 2005 considerou-se que a ordenação sacerdotal dos "viri probati" não seria uma solução para a falta de padres, dando como exemplo a situação que se vive nas Igrejas Orientais ligadas a Roma “que têm padres casados, mas que sofrem, apesar disso, de crise de vocações”.