27 abr, 2017 - 12:03 • Filipe d'Avillez
Veja também:
A visita de Francisco ao Egipto é uma dor de cabeça para as autoridades daquele país e para a própria equipa de segurança do Papa.
No dia 9 de Abril um duplo atentado fez mais de 40 mortos em duas igrejas egípcias, incluindo na catedral de São Marcos, em Alexandria, onde o líder da Igreja Copta Ortodoxa presidia à Eucaristia de Domingo de Ramos. Tawadros II escapou incólume ao ataque.
As autoridades temem que as muitas organizações extremistas que actuam no Egipto tentem cometer um atentado durante a visita do Papa, ou mesmo contra ele, mas a ameaça que paira sobre Francisco é também uma recordação do perigo em que vivem os cristãos do Egipto todos os dias.
Os coptas, como são conhecidos os cristãos egípcios, pertencem na sua grande maioria à Igreja Copta Ortodoxa e orgulham-se de ser descendentes do povo dos faraós, enquanto a comunidade islâmica é, na sua maioria, descendente dos árabes que invadiram o território no século VII.
Actualmente estima-se que os cristãos sejam cerca de 10% da população – embora não haja dados concretos – o que representa perto de 10 milhões de pessoas, compondo, de longe, a maior comunidade cristã de todo o Médio Oriente.
Mas a antiguidade da comunidade cristã não torna a sua vida mais simples. Há séculos que os coptas sofrem discriminação, mais ou menos oficial. No Século XX muitos receberam tratamento mais favorável às mãos das potências colonizadoras, levando a um ressentimento dos muçulmanos que tarda em desaparecer. Actualmente, pela forma como acolheram a revolta militar que pôs fim ao regime dominado pela Irmandade Muçulmana, que venceu as eleições realizadas depois da Primavera Árabe, são encarados como colaboracionistas pelos fundamentalistas islâmicos que passaram a ser perseguidos pelo Governo encabeçado pelo general Abdul al-Sisi.
O período de Governo de Morsi foi um dos tempos mais negros para a comunidade cristã no Egipto, com sucessivos ataques a igrejas e a continuação de assassinatos isolados. Mas quando milhões de egípcios foram para as ruas protestar contra a presença da Irmandade Muçulmana no poder, levando o exército a depô-lo, os seguidores de Morsi revoltaram-se e levaram a cabo uma onda de destruição que visou de forma particular igrejas e propriedades de coptas. Mais de uma centena de edifícios foram destruídos.
Quando o general al-Sisi tomou o poder estiveram ao seu lado a mais alta figura do islão no país, mas também o líder dos coptas. Desde então a perseguição ao nível do Estado diminuiu mas a dos militantes islâmicos aumentou. Recentemente uma série de assassinatos na península do Sinai, onde o extremismo islâmico está particularmente implantado, levou à fuga de centenas de famílias coptas para outras cidades mais seguras. Poucos dias depois deu-se o duplo atentado de Domingo de Ramos.
Mesmo fora do Egipto os coptas têm sido protagonistas de terríveis actos de perseguição. Tornaram-se famosas as imagens do massacre de 21 homens coptas que tinham sido raptados na Líbia, onde muitos egípcios vão para procurar trabalho. Foram todos decapitados numa praia por militantes do Estado Islâmico. Treze deles eram da mesma aldeia.
Para além destes casos mais publicitados de perseguição e assassinato existem questões que já se tornaram crónicos. A conversão do islão para o cristianismo é na prática impossível; há anos que os coptas batalham contra obstáculos burocráticos que os impedem de construir ou restaurar igrejas e há histórias recorrentes de raparigas coptas raptadas e casadas à força com homens muçulmanos, sendo que quando são localizadas a polícia se recusa a colaborar, alegando que se converteram ao islão de livre vontade.
O Egipto acaba por ser um espelho do que se passa com as comunidades cristãs não só em muitos países do Médio Oriente como também noutros Estados de maioria islâmica e o Papa Francisco já fez saber que tenciona que a sua visita seja entendida como um abraço a todos os cristãos que se encontram nestas situações.