15 mai, 2017 - 16:46
Mariana Avillez tem 41 anos, é veterinária de profissão e tem sete filhos. Acaba de lançar o livro “Mãe de Sete”, pela editora Livros Horizonte, um projecto que iniciou há três anos e que agora vem a público como uma colecção de histórias sobre o dia-a-dia numa família grande.
Em entrevista à Renascença, Mariana conta como conseguiu de facto ter o tempo para escrever, como se processa a gestão de tantas vontades da importância da oração para a rotina da família.
Como surgiu a ideia de escrever o livro?
Foi um desafio que me foi feito, andava a divertir-me há algum tempo a contar as histórias e anedotas e a tentar dar umas dicas a amigas e a primas e depois fizeram-me o desafio de tentar pô-las por escrito. Pensei que se calhar isto era uma forma de fazer os livros e bebé dos meus filhos de uma forma mais pública, mas fazê-los mesmo.
Pensei que nas férias de Verão despachava isto num instante, mas não se despacha num instante um livro, especialmente um livro que, às tantas, percebemos que nos vai expor um bocado.
Demorou dois anos em vez dos três meses que tinha inicialmente previsto, e daí ter passado de mãe de seis para mãe de sete, mas foi escrito com imenso amor e ternura pelos actores principais do livro e com imensa vontade de mostrar ao mundo que é possível, mesmo no meio da barafunda e dos gritos, risota, choro e birras, e que às vezes o que faz falta é haver esta demonstração ostensiva de optimismo e alegria e felicidade, mesmo quando isso também mete dor e frustração e zangas e ralhetes.
São muitas exigências, são os sete filhos, é o marido, a própria Mariana... Há muita gente para gerir aqui...
Às vezes, nesses dias em que é tudo tão intenso, nem há muito tempo para parar e perceber que, de facto, estou a ser esticada em tantas direcções. Às vezes, dá-me mesmo a sensação que alguma coisa vai rebentar.
Nesses dias, é que preciso mesmo de ter aquele bocadinho à noite, que foram os bocadinhos em que escrevi o livro, em que já está tudo na cama, reina a paz em casa e lá fora só se ouvem os grilos e consigo estar um bocado sentada, um bocado a ler, a ver televisão ou, como foram nos últimos dois anos, a escrever.
Mesmo quando há o cansaço físico, a cabeça ainda anda a mil, mais vale deixar a cabeça assentar e procurar um bocadinho de paz interior. Acaba por ser um bocadinho um espaço de oração, de intimidade, mesmo quando não é feito de uma forma consciente e activa, é um bocado de abrir o coração e deixar sair tudo o que foi frustração e deixar que o Espírito Santo me prepare para um novo dia.
Mas esta disciplina que foi ganhando, de escrever à noite, é algo que quer continuar?
Deixo completamente aberta essa possibilidade. Venho de uma linha de contadores de histórias, o meu pai, o meu avô... Tenho uma tia que escreve e escreve muito bem. Se calhar isso corre também um bocadinho no sangue, sempre gostei de escrever.
A nível financeiro, não há alturas de maior preocupação?
Há uma frase que está no livro e que a minha avó paterna diz. Eu tive sete filhos em 13 anos e ela teve 10 filhos em 13 anos. Enviuvou quando o mais novo tinha quatro anos, mas os meus avós diziam sempre que cada filho que nasce traz um pão debaixo do braço.
Eu senti muito isso. Por isso, nunca houve razão para deixar de ter confiança no Senhor. Quando havia um mês em que sabíamos que ia cair o seguro do carro, o seguro da casa, aqueles meses em que sabemos que vai ser muito apertado, no mês anterior pediam-me para fazer uma tradução.
O Espírito Santo funciona de formas muito misteriosas, mas lá sabe quais são os nossos meses de maior aperto. Talvez este livro também acabe por ser mais um desses pães caídos do Céu, vamos ver.
Esta entrevista
foi transmitida no espaço das 12h00, na Renascença, que às segundas-feiras é
dedicado aos temas sociais e relacionados com a vida da Igreja.