04 ago, 2017 - 16:59 • Ângela Roque
“Acolher o futuro. Novas gerações migrantes são o amanhã da humanidade” é o tema da Semana das Migrações, este ano com um olhar especial para as crianças. Eugénia Quaresma, directora da Obra Católica Portuguesa das Migrações (OPCM), diz à Renascença que o tema está relacionado com a mensagem do Papa para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, que se assinalou em Janeiro. “É um tema oportuno, que se inspira na mensagem do Santo Padre sobre os ‘Migrantes menores, vulneráveis e sem voz’, que chama a atenção para as dificuldades do acolhimento e integração, para as crianças desacompanhadas, que foram forçadas a sair da sua terra, crianças que se perderam da família. É para esta atenção aos mais pequenos, aos mais jovens, que queremos alertar”, explica.
Um alerta a que as recorrentes notícias sobre tráfico humano envolvendo crianças dão ainda mais pertinência e actualidade: “estamos a assistir a novos perfis do tráfico. Sabemos que há crianças vítimas de exploração, seja laboral, seja sexual, e esta será mais uma oportunidade de alerta. Temos comunidades religiosas que estão atentas a esta realidade do tráfico, mas só com toda uma comunidade desperta para este fenómeno se poderá proteger mais e melhor as vítimas”, sublinha a directora da OPCM.
Até 13 de Agosto haverá, ainda, oportunidade de reflectir sobre que futuro se quer para a Europa, um futuro que não se constrói sem crianças, e do qual os menores migrantes também fazem parte. “Que futuro desejamos para nós e para eles?”, pergunta D. António Vitalino Dantas na mensagem que divulgou para esta Semana. Escreve o bispo emérito de Beja, e responsável pela mobilidade humana na Comissão Episcopal da Pastoral Social, que “cuidar da nossa família e cuidar da casa comum, protegendo o ambiente e sobretudo amando o nosso próximo de modo concreto, e não apenas com palavras, será a melhor maneira de mostrarmos que temos em atenção os menores, os mais vulneráveis, os sem voz”.
Eugénia Quaresma fala na urgência da Europa reconhecer que precisa dos que chegam. “É uma realidade. Esta onda de migração forçada trouxe muito medo e muito susto, mas por outro lado vem-nos recordar que a Europa precisa dos migrantes. E não só como mão-de-obra, há outras mais-valias que é importante valorizar. Eles não vêm tirar o trabalho de ninguém, vêm à procura de melhores condições de vida, vêm por motivos de saúde ou por necessidade de reagrupamento familiar, são inúmeras as causas. Mas, este movimento todo também nos recorda que o nosso planeta é a casa de todos, temos uma ‘casa comum’, como nos lembra o Papa, e temos de aprender a conviver uns com os outros”.
A Igreja está atenta, e tem feito o seu papel. Várias das suas instituições criaram, em Portugal, a Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR), algumas estão a ajudar nos campos de refugiados na Europa, outras foram para os países de origem deste fenómeno, a tentar que não haja tantos motivos para emigrar. Mas há mais para fazer, diz: “temos uma rede capilar natural, fruto da evangelização, que importa rentabilizar e tirar maior partido dela. Este é o tempo de trabalharmos mais em rede, cá e lá, de articularmos o trabalho com as diferentes instituições da Igreja. Mas isto implica também um trabalho ao nível das relações internacionais, ao nível político, para se poder evitar alguns conflitos de guerra e promover a paz. Porque a falta de paz é uma das principais causas da mobilidade das pessoas, tal como a pobreza extrema. Portanto tem de se trabalhar na origem dos problemas, tem de se trabalhar depois nos países de trânsito, por onde as pessoas passam, e nos países de destino, onde procuram recomeçar a sua vida”.
Agosto, mês dos emigrantes
A Semana Nacional das Migrações decorre sempre em Agosto, o mês por excelência em que os portugueses que trabalham lá fora regressam em férias ao país, e culmina com a peregrinação dos emigrantes. Por isso esta semana é também deles, e para eles: “é um tempo de encontro, as pessoas vêm para matar saudades, vêm para mergulhar nas suas raízes novamente, vêm buscar energia para enfrentar o resto do ano de trabalho. Em Fátima encontra-se um bocadinho dessa energia que é necessária para recomeçar”, diz Eugénia Quaresma. “É sempre uma peregrinação muito participada, e é muito bonita de se viver e de se estar”. Este ano será presidida por monsenhor Rino Fisichella, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização.
A animar alguns momentos das cerimónias, como a vigília nocturna, vão estar três comunidades da diáspora – França, Reino Unido e Luxemburgo, e os secretariados diocesanos de migrações, que dia 12 de manhã vão reunir-se para reflectir e partilhar o que estão a fazer ao nível da “sensibilização e do acolhimento daqueles que vêm de fora, dos que regressam de férias”.
No próximo encontro de missionários europeus, marcado para Outubro, também em Fátima, será feito um balanço mais preciso da emigração portuguesa. “Neste momento temos dados que nos dizem que em alguns países o número de entradas diminuiu, mas sabemos que houve outros portugueses que entretanto emigraram para outros destinos onde surgiram oportunidades”, explica à Renascença Eugénia Quaresma, que tem bem definida a linha de acção para os próximos tempos. “A Santa Sé desafia-nos a seguir um programa baseado nos verbos ‘acolher’, ‘integrar’, ‘promover’ e ‘proteger’. Portanto, todo o nosso trabalho pastoral para o próximo ano terá em conta estes quatro verbos”.