11 set, 2017 - 22:43 • Reportagem de Sara Beatriz
“Um momento belo e próximo”. É assim que os fiéis da igreja paroquial de Coimbrões recordam a última presença pública de D. António Francisco dos Santos, que morreu esta segunda-feira.
O bispo do Porto esteve na manhã de domingo naquela paróquia do concelho de Vila Nova de Gaia a celebrar uma eucaristia em honra das festas de Santa Bárbara e do Senhor dos Aflitos.
Entrou na igreja pela porta principal, porque queria cumprimentar os paroquianos antes de se preparar para a eucaristia. Trazia a homilia escrita, mas confessou aos fiéis a vontade de se libertar do papel. O pároco de Coimbrões, António Batista, vê nas últimas palavras do bispo do Porto aos fiéis uma despedida inesperada.
“Na homilia começou por dizer: ‘trazia isto escrito, mas vou dar agora lugar à minha inspiração’. Depois no final a última palavra que ele utilizou foi uma citação bíblica do evangelista Lucas, em que Jesus dizia aos discípulos: ‘desejei ardentemente celebrar a Páscoa convosco.’ A Páscoa para Jesus era a última ceia, a última celebração, a última missa. Quem estaria a imaginar que esta seria a última missa dele? Isso é que nos faz pensar”, reflete o pároco.
O padre António Batista recorda D. António Francisco dos Santos como um homem “próximo” e “de gestos”. Conta que, depois da eucaristia, o bispo do Porto fez questão de cumprimentar todos os fiéis à saída da igreja.
“Depois da eucaristia ele mesmo disse: ‘agora vou estar à porta e quero saudar, pessoalmente, cada uma das pessoas que estão aqui dentro’. Como quem diz "adeus" àquela gente toda. Isto faz-nos pensar muito. Tinha sempre uma palavra para cada pessoa”, recorda.
As palavras de D. António marcaram também Roberto Guedes. É diácono no Rio de Janeiro e aguarda a assinatura de um acordo entre Portugal e Brasil para que possa cumprir missão em Coimbrões.
D. António Francisco dos Santos tinha-lhe prometido uma reunião na próxima semana para conversarem sobre o assunto. O encontro já não é possível, mas a proximidade do bispo com os fiéis marcou o diácono.
“Logo quando chegámos ele disse que queria entrar para a sacristia a partir da igreja para cumprimentar o povo. Foi cumprimentando todo o mundo enquanto entrava. Isso é diferente. Isso é uma pessoa que está sempre em missão. Está sempre a querer evangelizar e próximo do povo”, descreve Roberto Guedes.
No dia da morte do bispo do Porto, Roberto Guedes conta como ficou admirado pela falta de protocolo com que D. António Francisco dos Santos se dirigia aos outros quando o conheceu.
“Foi engraçado que quando o conheci ele entrou na sala naturalmente. Se eu já não o tivesse conhecido através de fotos eu ia ficar conversando como se fosse um padre comum. Ele entrou, sentou-se e disse simplesmente: ‘então, como é que estamos?’”, conta.
Roberto Guedes sublinha também a forma que o bispo do Porto escolheu para se despedir dos paroquianos na manhã de domingo e a vontade com que todos os paroquianos acederam ao seu gesto.
“Ele na homilia no final disse: ‘quem estiver com pressa e quiser comer pode ir. Não se preocupem em ficar aqui à minha espera, mas eu vou estar à porta a cumprimentar quem quiser.’ Não houve uma pessoa que tenha saído. Todos ficaram na porta”, remata.