25 set, 2017 - 10:54
D. Manuel Martins, Bispo Emérito de Setúbal, foi uma voz activa na denúncia das graves situações sociais que se viviam na diocese, em especial nas décadas de 1980 e 90. A imprensa chegou mesmo a apelidá-lo de “bispo vermelho”.
“Chamam-me bispo vermelho. O que é que queriam que eu fosse perante aquela realidade? O que é que queriam que eu fosse?”, comentou com José Silva Peneda, antigo ministro do Emprego e da Segurança Social.
Entrevistado na Manhã da Renascença, Silva Peneda explica que D. Manuel Martins “assumiu muito aquilo que D. António Ferreira Gomes [antigo bispo de Portalegre e do Porto], a quem era muito ligado, lhe disse quando foi para Setúbal: ‘sê de Setúbal. Não vás para Setúbal’”.
“Portanto, D. Manuel viveu intensamente aquela realidade, passou a ser um dos setubalenses, um dos que viveu aquelas dificuldades”, apesar de ser natural do Norte do país.
José Silva Peneda, amigo próximo de D. Manuel Martins, justifica ainda mais a entrega do bispo com o facto de Setúbal ser “diferente do Vale do Ave, por exemplo, ou outra zona onde houve crise”.
“No Norte e no Vale do Ave, as pessoas perdem o emprego, mas há sempre possibilidade quanto à alimentação – têm uma horta, têm um vizinho. Em Setúbal não: quando se perde o emprego, perde-se tudo, porque não há outra forma complementar. As pessoas vivem em apartamentos, não vivem em casas, não têm hortas. É muito difícil. Quando se perde o emprego em Setúbal, o drama é muito maior, e D. Manuel percebia isso”, afirma.
Além do desemprego, Setúbal viveu problemas relacionados com o trabalho infantil, os salários em atraso e a vida nas barracas.
D. Manuel Martins esteve à frente da diocese de Setúbal entre 1975 e 1998. Morreu no domingo à tarde, aos 90 anos. O seu corpo está desde esta segunda-feira de manhã em câmara ardente no Mosteiro de Leça do Balio. O funeral está marcado para as 15h00 de terça-feira.