25 set, 2017 - 12:57 • Sérgio Costa
O antigo Presidente da República Ramalho Eanes destaca a "fidelidade aos valores do cristianismo" revelada pelo bispo emérito de Setúbal, D. Manuel Martins, falecido no domingo.
"Recordo-o, sobretudo, enquanto bispo de Setúbal, qualidade em que eu bem o conheci. Esse conhecimento acabou por fazer com que sentisse por ele a maior consideração pela sua fidelidade aos valores do cristianismo", diz o general Eanes à Renascença.
"D. Manuel impressionou-me pelo vigor da palavra, pelo desassombro que punha na denúncia de injustiças sociais, à época gritantes no distrito de Setúbal e expressas na fome, na falta de trabalho, nos salários em atraso, no trabalho infantil e na falta da habitação", recorda.
Ramalho Eanes sublinha que acção de D. Manuel Martins "não se limitou à palavra e ao testemunho desassombrado", uma vez que "realizou uma obra notável de apoio aos mais desfavorecidos e teve uma acção dinamizadora das instituições da Igreja empenhadas no apoios aos mais desfavorecidos".
"Soube, na altura, que a sua porta estava sempre aberta" a quem tivesse problemas para expor, recorda o antigo Presdiente, destacando que a denúncia de D. Manuel de que havia fome no distrito de Setúbal foi "um grito de angústia" erradamente "sentido como um incómodo para poder político", porque "deveria ser tomado como um apelo para que o poder colaborasse com ele para resolver os problemas".
"Ainda se fecha muito os olhos ás situações de injustiça e, por isso, entendo que D. Manuel Martins, pela sua palavra e acção, é uma referência para a Igreja, para a sociedade civil e para os partidos e poder políticos."
Nestas declarações à Renascença, Ramalho Eanes revela que conversava "alguma vezes por ano, telefonicamente" com D. Manuel e, uma vez por ano, com a sua mulher e um dos filhos, almoçava como o bispo, "pelo Natal". Até ao fim, "D. Manuel impressionava-me, porque mantinha um vigor intelectual e uma preocupação enorme pelos acontecimentos públicos".