06 out, 2017 - 15:12 • Filipe d'Avillez
O Papa Francisco compromete a Igreja Católica na luta contra a exploração de crianças na internet, bem como a defesa dos cerca de 800 milhões de internautas menores da exposição a conteúdos chocantes ou traumatizantes.
Francisco dirigiu-se esta sexta-feira aos participantes de um Congresso Mundial sobre a Dignidade das Crianças no Mundo Digital, que foi organizado pela Universidade Gregoriana, instituição da Igreja Católica, em Roma.
Os participantes no congresso, incluindo políticos, cientistas, representantes religiosos e de grandes empresas de tecnologia, publicaram a “Declaração de Roma” no final do congresso, que apela a um maior esforço por parte de todos os envolvidos para combater a proliferação de conteúdos "online" que ferem a dignidade das crianças e a exposição das mesmas a conteúdos violentos ou pornográficos.
No seu discurso aos participantes, esta sexta-feira, o Papa não se poupou a elencar os perigos que espreitam por detrás dos ecrãs. “Encontramos na internet coisas extremamente perturbadoras, incluindo a proliferação de pornografia cada vez mais extrema, uma vez que o uso habitual eleva a fasquia do estímulo; o fenómeno crescente do ‘sexting’ entre homens e mulheres jovens que usam as redes sociais e o crescimento do 'bullying' online, uma verdadeira forma de ataque moral e físico à dignidade dos mais novos.”
“A isto pode-se acrescentar a ‘sextorção’ ['sextorsion'], isto é a solicitação de menores para efeitos sexuais, como agora se vê cada vez mais na comunicação social, isto para não falar dos graves e terríveis crimes do tráfico de pessoas 'online', prostituição ou mesmo a encomenda e transmissão em directo de actos de abuso e de violência contra menores noutras partes do mundo”.
Estes são problemas que podem afectar até 800 milhões de crianças que já usam a internet, um número que vai aumentar ao longo dos próximos anos.
Sem nunca deixar de referir que a internet também tem trazido muitos benefícios ao mundo, o Papa descreveu alguns destes fenómenos como parte da “cultura do descarte” de que tem falado desde que foi eleito para liderar a Igreja Católica.
Perante as ameaças, deve-se evitar o medo, “que é sempre pobre conselheiro”, e também três abordagens erradas, nomeadamente o subestimar da gravidade da exposição dos menores a estes conteúdos, comprovada por diversos estudos científicos; pensar que as soluções são meramente técnicas, como por exemplo o desenvolvimento de filtros cada vez mais eficazes e a queda numa “visão ideológica e mítica da internet como território de liberdade ilimitada”.
Aprender com os próprios erros
O Papa agradeceu a presença de todos os que participaram nos encontros e disse que o que move a Igreja Católica a tomar parte neste esforço é precisamente o seu passado recente.
“Só a luz e a força que emanam de Deus é que podem capacitar-nos para enfrentar estes novos desafios. Quanto à Igreja Católica, asseguro-vos do seu compromisso e da sua prontidão para ajudar", afirmou Francisco.
"Nos anos recentes, a Igreja tem vindo a reconhecer as suas próprias falhas na protecção das crianças; factos extremamente graves têm-se tornado públicos, pelos quais temos de assumir a nossa responsabilidade diante de Deus, das vítimas e da opinião pública. É precisamente por esta razão, em resultado das experiências dolorosas e da experiência ganha ao longo o processo de conversão e de purificação, que a Igreja se sente hoje obrigada de forma especial a trabalhar incansavelmente e com os olhos postos no futuro, pela protecção dos menores e da sua dignidade”, disse Francisco.